quarta-feira, 22 de junho de 2011

MEU VIRTUOSO AMIGO “PUDOR”

O pudor é aquele tipo de palavra que todo mundo conhece, mas, se pedíssemos o significado, poucos conseguiriam explicar. Fiz uma pesquisa e descobri o que as pessoas acham: uns dizem que é a mesma coisa que vergonha, outros, o mesmo que ética, moral ou educação. Fiquei a pensar: será que o pudor não tem personalidade? Ou na verdade essa palavrinha confunde a cabeça de todo mundo?
O pudor é aquele tipo de palavra que todo mundo conhece, mas, se pedíssemos o significado, poucos conseguiriam explicar.

O pudor é aquele tipo de palavra que todo mundo conhece, mas, se pedíssemos o significado, poucos conseguiriam explicar.

Na verdade, vamos falar do pudor não apenas como uma palavra isolada que confunde, mas como um amigo. Quem já teve um amigo grande, forte e corajoso que te dava segurança na hora do aperto? É bom poder contar com alguém na hora do perigo. Eu, por exemplo, tinha a minha irmã que, quando roubavam as minhas bolinhas de gude, eu ia pra casa chorando; ela ia até lá e as pegava de volta. Ainda bem, porque, se dependesse de mim… Posso dizer que o pudor é esse amigo!

É interessante ver que, após pecar, Adão e Eva, quando percebem que Deus se aproxima, correm para tomar emprestado da natureza vestes para que assim pudessem esconder a sua nudez. Percebemos aí que o pecado tira do homem a pureza na qual fomos criados. Uma vez rompido o vínculo com Deus, o espírito perde em boa parte o domínio do corpo, cuja elegância e transparência também se extraviam.

Assim, a relação entre homem e mulher, outrora pura, torna-se possível ocasião de ofensa a Deus. A roupa torna-se um complemento obrigatório ao corpo, que perdeu sua transparência e precisa desviar a atenção de si para revelar o que verdadeiramente contém. O Pudor vem ajudar a desviar os olhares impuros da minha intimidade para que possamos revelar o que somos.

Muitos defendem a nudez do corpo sob a desculpa da arte. Mas temos que admitir que certas partes do corpo não trazem nada à mente senão o prazer pela nossa realidade de pecadores. Um corpo que se deixa desnudar por motivos que não sejam o do amor conjugal, higiene ou saúde, com concretos motivos de exibição daquilo que é mais intimo é tanto para o homem quanto para a mulher uma espécie de despersonalização voluntária, além de uma grave falta de respeito à dignidade própria e alheia.

No campo da nossa sexualidade, o pudor traz o bem estar próprio e dos outros. No âmbito pessoal, vela o meu corpo fazendo amar aquilo que é só meu e me levando a partilhar somente no relacionamento conjugal. Isso me leva a pensar naquele trecho da Sagrada Escritura em que a amada diz: “Eu sou do meu amado e o meu amado é meu!” (Ct 6,3). O belo nisso tudo está naquele que se guarda somente para o amado e, no que toca à moral católica, entenda-se esposo(a). Guardar aquilo que lhe é mais precioso para uma única pessoa e entregar-lhe somente no leito nupcial é pudor. Isso é romântico, né?

Agora, pensando no contrário, penso naquela música que diz: “Eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também…” Que horror! Essa é a famosa música da “amostra grátis”. Muitas pessoas fazem pouco esforço para guardar aquilo que lhe é mais caro; aí vira queima de estoque; passa a valer muito pouco e quando o que era melhorzinho já foi vendido, o que sobrou ninguém quer. Parece meio trágico, mas é a verdade.

Hoje em dia muitos homens passaram a enxergar as mulheres como simples objeto, objeto que lhes traz algum prazer e depois pode ser dispensado. Será que a culpa é só deles? Li uma reportagem durante o Carnaval que dizia que uma cidadã estava usando uma fantasia de 4 centímetros… É isso mesmo. Acho inclusive que o nome da fantasia era “acém na vitrine”. Fiquei pensando que se uma barata usasse uma roupa de 4 cm, ela ficaria vestida decentemente, mas, para um “ser humano”, não tem sentido tamanha exposição da intimidade! Se eu não der valor a mim mesmo, como poderia convencer os outros de que não passo de um objeto em exposição? O pudor é o amigo que defende o que tenho de mais íntimo do modo mais amplo possível!

A escritora Jô Croissant diz: “Na Igreja a mulher é sinal da esposa. É ela que leva o homem aos esponsais divinos. Se o mundo tem tanta dificuldade de aceitar a graça da mulher é devido a ela ser sinal do Divino. O mundo teme tudo o que possa lembrar a sua fraqueza, pois ele não quer depender de ninguém. Ele não deixa lugar para os pobres e pequenos por que eles o lembram da sua própria fraqueza” (1). E é a partir da inveja da graça que a mulher traz em si que satanás luta para que ela não passe de um objeto de prazer sem valor.

E quando o meu pudor faz bem aos outros? Em princípio, é bom entender que o sentido da visão é muito sensível e intimamente ligado às emoções, sobretudo nos homens. Conheci um padre que tinha uma tática infalível para se defender de certas tentações: sempre que uma mulher com muito decote ou pouca roupa aproximava-se muito, ele rapidamente tirava os óculos, assim ficava tudo embaçado e ele dava toda a atenção possível sem ficar constrangido. Eu me torno agradável a partir do momento em que penso que o meu vestir e agir pode fazer bem ao meu próximo, tirando a possibilidade de pecado do coração dele. Isso é amor. Se por acaso faltar amor próprio, pelo menos pense no outro que não tem culpa da sua falta de pudor. O meu corpo não é mero instrumento de prazer e muito menos o do outro não é amostra grátis, pois está cheio de dignidade e amor.

Com palavras de Pio XII, o pudor “bem pode chamar-se a prudência da castidade. Pressente o perigo iminente, impede que a pessoa se exponha ao risco e impõe a fuga das ocasiões a que se expõem os menos prudentes. Não lhe agradam as palavras torpes ou menos honestas, e detesta a mais leve imodéstia. Evita a familiaridade suspeita com pessoas do outro sexo, porque enche a alma de profundo respeito pelo corpo, que é membro de Cristo (cf. 1Cor 6,15) e templo do Espírito Santo (cf. 1Cor 6,19). A alma cristãmente pudica tem horror a qualquer pecado de impureza e retira-se ao primeiro assomo da sedução” (2).

O homem diferencia-se do animal porque o seu comportamento não depende de instintos automáticos. Precisa do alicerce dos valores. E quando destrói esse alicerce, torna-se capaz de qualquer desvario e corre o risco iminente de afundar-se individual e coletivamente

Esse bom amigo me conduz à santidade e arrasta a todos que estão à minha volta. Enche a minha vida de sentido e valor, ensina-me a viver um amor puro, vivo e verdadeiro. O pudor não constitui, portanto, uma força repressiva, exceto para aqueles que procuram mascarar a luxúria sob a aparência de virtude.
(1) “O corpo – Templo da beleza”

(2) Encíclica Sacra virginitas, n.56.

Luiz Moreira dos Anjos Junior 

Consagrado na Comunidade Católica Pantokrator

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