Partindo do ponto de vista da experiência humana, pode-se definir a amizade como intercâmbio de valores com pessoas que, por diversas razões, tornaram-se únicas e apreciáveis em nossa vida.
A amizade sempre tem por finalidade o bem, porque é desenvolvimento do amor, de uma forma especial. O mal dá origem a conluios e conchavos, mas o fruto da amizade só pode ser benfazejo, multiplicando-se na dedicação às pessoas. Embora admita preferências, a amizade jamais se fecha no exclusivismo, eliminando outros.
O amigo é aquele que nos apóia em qualquer momento, sobretudo nos momentos difíceis e nas circunstâncias em que buscamos ideais maiores. Então, ele nos acoberta, nos preenche com suas qualidades que, unidas às nossas, formam um verdadeiro cabedal de valores. Esta riqueza enobrece nossas vidas e nos fortalece para enfrentarmos quaisquer situações, por mais duras que sejam.
A amizade não é transitória; tem a característica de ser perene, por si mesma. Não se decepciona, pois nunca espera receber alguma recompensa ou vantagem. Deseja somente dar, pois a pessoa amiga se realiza conjuntamente com a realização do outro. A amizade se consolida no mútuo estímulo e aconselhamento, mas, também, na sincera correção fraterna das falhas, quando necessário.
Evidentemente, tudo isso supõe uma certa empatia ou, pelo menos, simpatia. Para desenvolvermos uma amizade duradoura e profunda com alguém, é preciso um mínimo de afinidade, que leve à mútua vibração pelos ideais de cada um. Esse condividir de valores, experiências e objetivos a alcançar tem um conteúdo psicológico profundo, capaz de nos proporcionar grandes alegrias, características da amizade. Poderíamos compará-la a um vinho que, ao ser partilhado, se torna mais saboroso, assim já dizia Cícero.
Se tivermos que empreender uma obra difícil, o apoio dos amigos, até materialmente, revela-se inestimável. Fiz esta experiência, quando iniciei uma obra social para mais de 500 crianças, na periferia de Taubaté. Posso afirmar, com alegria, que contei com o apoio de vários amigos, tanto para o planejamento, quanto para a continuidade da obra, que existe até hoje, conduzida pelas mãos solidárias daqueles que me substituíram, graças ao bom Deus.
Quando trabalhamos na mesma missão, principalmente se esta tem como finalidade o Reino de Deus, conjugam-se idéias, esforços e programas de vida, que acabam por semear uma amizade fecunda e prazerosa para todos que a compartilham ou dela usufruem.
A Sagrada Escritura apresenta os mais variados exemplos da amizade. O amigo nos defende contra os perigos, como o fez Jônatas, cujo pai, o rei Saul, intentava matar Davi por inveja e ciúmes. “Jônatas fez um pacto com Davi, que ele amava como a si mesmo” (1Sm 18,3), prometendo-lhe: “Se eu souber que de fato meu pai resolveu perder-te, juro que te avisarei” (1Sm 20,9).
O Livro de Jó retrata a solidariedade dos amigos. No momento em que Jó se encontrava no maior infortúnio, tudo ia mal e até sua própria esposa se voltara contra ele, foi em três amigos que ele encontrou consolo. Certamente, os longos discursos que proferiram manifestavam uma visão ainda primitiva sobre o sofrimento e o mal. Aqui, porém, interessa-nos destacar a disponibilidade daqueles homens, como interlocutores e dialogantes, na tentativa de evitar que Jó caísse no desespero, devido à situação em que se encontrava (cf. Jó 2-31).
E um dos textos mais belos sobre a amizade, encontramos no Livro do Eclesiástico: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel; o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor, achará esse amigo” (Eclo 6,14-16).
O maior objetivo a que pode chegar a amizade é dirigir-se a Deus. Muito raramente a Bíblia chama alguém de “amigo de Deus”, pois trata-se do título mais nobre a que um ser humano poderia aspirar. A Carta de São Tiago, citando uma passagem do Gênesis, afirma que “Abraão creu em Deus e isto lhe foi tido em conta de justiça, e foi chamado amigo de Deus” (Gn 15,16 ; Tg 2,23).
Moisés, os profetas e, especialmente, Davi também foram considerados amigos de Deus. Isto não significa que estivessem isentos de falhas. Pelo contrário. Moisés duvidou da onipotência e da misericórdia de Deus e Davi pecou gravemente, sob a tentação de um amor proibido. Mas um amigo sabe passar por cima das falhas do outro, perdoando-o, sem que isto destrua a verdadeira amizade, e procurando auxiliá-lo.
Jesus também escolheu os seus amigos prediletos. Eram 12, aos quais Ele conferiu a missão de Apóstolos. Participaram de sua vida, aprenderam e trabalharam com Ele no anúncio do Evangelho e, principalmente, deixaram-se trabalhar pela Palavra que santifica. Jesus chegou a afirmar: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Aí se contempla o cume do amor a que pode chegar a amizade.
É bom não esquecer que Judas Iscariotes, o traidor, também foi escolhido por Jesus como amigo, pelas qualidades que tinha. Ele, porém, não soube ser fiel. Um amigo infiel é uma das maiores desgraças que podem existir, pela dor, a tristeza, e o desânimo que a traição causa. Na hora em que recebeu o beijo de Judas, Jesus ainda lhe perguntou: “Amigo, com um beijo trais o Filho do Homem?” (Lc 22,48). Até mesmo naquela hora, Jesus o chamou de amigo, porque sua fidelidade permanece, apesar das maiores faltas que possamos cometer.
Ainda se pode lembrar os três amigos de Jesus, que viviam em Betânia: Lázaro, Marta e Maria. Lá o Mestre gostava de pernoitar, de tomar a sua módica refeição. Chegou a ficar com eles semanas inteiras, antes de sofrer a Paixão. Quem de nós não gostaria de poder contar com o lar de uma família, onde fôssemos acolhidos com a mais pura amizade? Infelizmente, isto se torna cada vez mais raro, neste tempo, em que a busca de alguma vantagem pessoal domina quase tudo.
Mas a vida sem amigos não tem graça. Ocupar um lugar de destaque, sem ter amigos verdadeiros, é uma compensação bastante falha, pois quem não tem amigos, não vai chegar longe, pelo peso que a vida nos faz suportar. Sem poder condividir esse peso com quem comunga conosco os mesmos ideais e objetivos, encontramo-nos numa situação pouco invejável. É o peso da solidão.
Termino, lembrando que temos amigos no céu. Aqueles que nos enriqueceram com sua amizade durante a vida terrena continuam a fazê-lo na bem-aventurança eterna. E lá também temos amigos que conhecemos apenas da literatura religiosa: os santos e santas, aos quais nos afeiçoamos, de acordo com nossas predileções, e que nos ajudam a caminhar com o estímulo dos seus exemplos de vida e dos seus escritos.
Deus seja louvado pelos amigos que temos e nos ensine a aperfeiçoar, na caridade, os amigos que somos para quantos se aproximam de nós. O Cristo Amigo continue a ser o nosso mais precioso tesouro!
A amizade sempre tem por finalidade o bem, porque é desenvolvimento do amor, de uma forma especial. O mal dá origem a conluios e conchavos, mas o fruto da amizade só pode ser benfazejo, multiplicando-se na dedicação às pessoas. Embora admita preferências, a amizade jamais se fecha no exclusivismo, eliminando outros.
O amigo é aquele que nos apóia em qualquer momento, sobretudo nos momentos difíceis e nas circunstâncias em que buscamos ideais maiores. Então, ele nos acoberta, nos preenche com suas qualidades que, unidas às nossas, formam um verdadeiro cabedal de valores. Esta riqueza enobrece nossas vidas e nos fortalece para enfrentarmos quaisquer situações, por mais duras que sejam.
A amizade não é transitória; tem a característica de ser perene, por si mesma. Não se decepciona, pois nunca espera receber alguma recompensa ou vantagem. Deseja somente dar, pois a pessoa amiga se realiza conjuntamente com a realização do outro. A amizade se consolida no mútuo estímulo e aconselhamento, mas, também, na sincera correção fraterna das falhas, quando necessário.
Evidentemente, tudo isso supõe uma certa empatia ou, pelo menos, simpatia. Para desenvolvermos uma amizade duradoura e profunda com alguém, é preciso um mínimo de afinidade, que leve à mútua vibração pelos ideais de cada um. Esse condividir de valores, experiências e objetivos a alcançar tem um conteúdo psicológico profundo, capaz de nos proporcionar grandes alegrias, características da amizade. Poderíamos compará-la a um vinho que, ao ser partilhado, se torna mais saboroso, assim já dizia Cícero.
Se tivermos que empreender uma obra difícil, o apoio dos amigos, até materialmente, revela-se inestimável. Fiz esta experiência, quando iniciei uma obra social para mais de 500 crianças, na periferia de Taubaté. Posso afirmar, com alegria, que contei com o apoio de vários amigos, tanto para o planejamento, quanto para a continuidade da obra, que existe até hoje, conduzida pelas mãos solidárias daqueles que me substituíram, graças ao bom Deus.
Quando trabalhamos na mesma missão, principalmente se esta tem como finalidade o Reino de Deus, conjugam-se idéias, esforços e programas de vida, que acabam por semear uma amizade fecunda e prazerosa para todos que a compartilham ou dela usufruem.
A Sagrada Escritura apresenta os mais variados exemplos da amizade. O amigo nos defende contra os perigos, como o fez Jônatas, cujo pai, o rei Saul, intentava matar Davi por inveja e ciúmes. “Jônatas fez um pacto com Davi, que ele amava como a si mesmo” (1Sm 18,3), prometendo-lhe: “Se eu souber que de fato meu pai resolveu perder-te, juro que te avisarei” (1Sm 20,9).
O Livro de Jó retrata a solidariedade dos amigos. No momento em que Jó se encontrava no maior infortúnio, tudo ia mal e até sua própria esposa se voltara contra ele, foi em três amigos que ele encontrou consolo. Certamente, os longos discursos que proferiram manifestavam uma visão ainda primitiva sobre o sofrimento e o mal. Aqui, porém, interessa-nos destacar a disponibilidade daqueles homens, como interlocutores e dialogantes, na tentativa de evitar que Jó caísse no desespero, devido à situação em que se encontrava (cf. Jó 2-31).
E um dos textos mais belos sobre a amizade, encontramos no Livro do Eclesiástico: “Um amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o achou, descobriu um tesouro. Nada é comparável a um amigo fiel; o ouro e a prata não merecem ser postos em paralelo com a sinceridade de sua fé. Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme ao Senhor, achará esse amigo” (Eclo 6,14-16).
O maior objetivo a que pode chegar a amizade é dirigir-se a Deus. Muito raramente a Bíblia chama alguém de “amigo de Deus”, pois trata-se do título mais nobre a que um ser humano poderia aspirar. A Carta de São Tiago, citando uma passagem do Gênesis, afirma que “Abraão creu em Deus e isto lhe foi tido em conta de justiça, e foi chamado amigo de Deus” (Gn 15,16 ; Tg 2,23).
Moisés, os profetas e, especialmente, Davi também foram considerados amigos de Deus. Isto não significa que estivessem isentos de falhas. Pelo contrário. Moisés duvidou da onipotência e da misericórdia de Deus e Davi pecou gravemente, sob a tentação de um amor proibido. Mas um amigo sabe passar por cima das falhas do outro, perdoando-o, sem que isto destrua a verdadeira amizade, e procurando auxiliá-lo.
Jesus também escolheu os seus amigos prediletos. Eram 12, aos quais Ele conferiu a missão de Apóstolos. Participaram de sua vida, aprenderam e trabalharam com Ele no anúncio do Evangelho e, principalmente, deixaram-se trabalhar pela Palavra que santifica. Jesus chegou a afirmar: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Aí se contempla o cume do amor a que pode chegar a amizade.
É bom não esquecer que Judas Iscariotes, o traidor, também foi escolhido por Jesus como amigo, pelas qualidades que tinha. Ele, porém, não soube ser fiel. Um amigo infiel é uma das maiores desgraças que podem existir, pela dor, a tristeza, e o desânimo que a traição causa. Na hora em que recebeu o beijo de Judas, Jesus ainda lhe perguntou: “Amigo, com um beijo trais o Filho do Homem?” (Lc 22,48). Até mesmo naquela hora, Jesus o chamou de amigo, porque sua fidelidade permanece, apesar das maiores faltas que possamos cometer.
Ainda se pode lembrar os três amigos de Jesus, que viviam em Betânia: Lázaro, Marta e Maria. Lá o Mestre gostava de pernoitar, de tomar a sua módica refeição. Chegou a ficar com eles semanas inteiras, antes de sofrer a Paixão. Quem de nós não gostaria de poder contar com o lar de uma família, onde fôssemos acolhidos com a mais pura amizade? Infelizmente, isto se torna cada vez mais raro, neste tempo, em que a busca de alguma vantagem pessoal domina quase tudo.
Mas a vida sem amigos não tem graça. Ocupar um lugar de destaque, sem ter amigos verdadeiros, é uma compensação bastante falha, pois quem não tem amigos, não vai chegar longe, pelo peso que a vida nos faz suportar. Sem poder condividir esse peso com quem comunga conosco os mesmos ideais e objetivos, encontramo-nos numa situação pouco invejável. É o peso da solidão.
Termino, lembrando que temos amigos no céu. Aqueles que nos enriqueceram com sua amizade durante a vida terrena continuam a fazê-lo na bem-aventurança eterna. E lá também temos amigos que conhecemos apenas da literatura religiosa: os santos e santas, aos quais nos afeiçoamos, de acordo com nossas predileções, e que nos ajudam a caminhar com o estímulo dos seus exemplos de vida e dos seus escritos.
Deus seja louvado pelos amigos que temos e nos ensine a aperfeiçoar, na caridade, os amigos que somos para quantos se aproximam de nós. O Cristo Amigo continue a ser o nosso mais precioso tesouro!
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