segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

FORMAÇÃO INTELECTUAL E CULTURAL

Os consagrados esforcem-se durante toda a vida, no seu próprio ofício ou cargo, por aperfeiçoar a cultura espiritual, doutrinal e técnica (...). Por isso, a atividade intelectual, como os outros trabalhos, deve ser considerada uma expressão da pessoa em sua dinâmica vital.Neste aspecto tenho me questionado e deixado me questionar sobre a vida intelectual dos nossos , os estudos , a formação acadêmica, o mínimo de formação básica escolar , um completar os estudo , uma faculdade , por que não ?

Sem esforço não é possível aperfeiçoar-se em nada. Daí o imperativo de nossas Palavras em resposta a própria palavra de Deus que nós diz: “esforcem-se”.
Sem um sério e constante empenho pelo estudo, como é possível uma verdadeira cultura?
Lembrem-se de que a negligência pelo estudo ou pela própria formação cultural é maléfica não somente para a vida de um consagrado, mas para toda a Igreja. Mesmo que não tenham grandes habilidades, com verdadeiro empenho e contínuo exercício poderá compensar seus próprios limites.

A história tem demonstrado que, de fato,não somos por vocação uma Ordem de universitários.
Contudo, é certo que a sã formação universitária, séria e acessível a muitos, pode dar à Comunidade aquele grau de capacidades culturais que são necessárias para um bom serviço no Reino de Deus.
Observa-se que o que está em jogo aqui não é o nosso carisma, mas a motivação concernente a uma certa preparação consistente, sólida para “um bom serviço no Reino de Deus”.
O não aprofundamento da própria fé implica dificuldade de tomar posição com segurança, convicção e incisividade diante do contexto cultural de hoje, que se torna cada vez mais complexo e dinâmico.

A necessidade, então, de um conhecimento aprofundado da fé, coisa que se adquire com o amor pelos estudos, há que ver com o lema de Santo Anselmo na Idade Média: “creio para entender”.
Isto significa dizer que a fé precisa também ser entendida, amadurecida, polida, porque em torno da fé, existem razões que dão razão dela.
Com efeito, “o ato de fé "comporta sempre uma adesão que envolve a racionalidade”.
É por isso que deveríamos aprimorar mais o estudo da teologia. Buscar, pois, as motivações profundas da própria fé, é sumamente importante em nome da verdade que sacia o nosso espírito.
Para tanto, convém dizer que não é possível uma aprendizagem e um conhecimento intelectualmente substancioso sem aplicação nos estudos.
E sobre isso, quero, fazendo jus às palavras  de alguns que se achegaram a mim falando sobre isso chamar a atenção para uma atitude que se poderia denominá-la de “compensação cultural”.
Hoje se lê jornais e revistas, vê-se TV, ouve-se rádio.

De algum modo estamos muito informados sobre os acontecimentos do dia, e, não só, como também podemos estar em contato com os problemas do nosso tempo. Porém, esta atitude pode acabar numa “compensação cultural”, quando se pode pensar que tal informação baste. Não se pode ter uma formação séria e uma verdadeira cultura, baseando-se nesses meios.
O perigo da superficialidade é muito grande. Daqui resulta, pois, que o estudo que nos é pedido requer bem outro aprofundamento, outro esforço, outra ascese capaz de nos levar aos frutos do espírito.

O que produz cultura são livros. Internet, televisão, rádio, dão informações, mas não conseguem consolidar uma verdadeira cultura. Livros produzem cultura, mas para isso é preciso lê-los com afinco, o que requer prioridade no nosso tempo.

Organizar-se significa criar condições necessárias para o próprio crescimento integral.
A formação intelectual e cultural, própria da dimensão espiritual, não rima com perda de tempo e tanto menos com preguiça. É preciso estar ciente que por traz da expressão “não tenho tempo”, esconde-se uma verdade: a de que o tempo não é prioritário para mim. Com efeito, tem-se sempre tempo para o que é prioritário.
O exercício de auto-superação nos estudos contribuem largamente para uma vida ascética, disciplinada no caminho da santificação.
Desse modo, o estudo está em perfeita sintonia com a vida espiritual, mais que adquirir conhecimentos prontos, pode-se adquirir um ethos, um modo-de-ser, os estudos escolares são como um campo que se esconde uma pérola: para possuí-la, vale a pena vender todos os próprios bens, sem exceção nenhuma, a fim de poder adquirir aquele campo”.
O conhecimento é uma necessidade vital.

Todavia, na modernidade, marcada por uma “cultura de morte” essa necessidade nunca foi tão aviltada. Hoje, vive-se em um mundo abarrotado de livros, informações, discursos. O acesso à informação dá-se de maneira tão rápida como em nenhuma outra época. Isso, entretanto, não significa, necessariamente, conhecimento, muito menos inteligência. Se, por um lado, o homem nunca esteve tão acercado de informações e notícias, por outro, nunca esteve tão vazio do verdadeiro conhecimento.

Esse “vazio intelectual” parece progressivo e, como um vírus letal, parece não pretender poupar ninguém.
Em meados do século passado Karl Rahner fez a seguinte observação:“por desagradável que seja, não se deve dissimular tal constatação: o nível intelectual sofreu um descenso não negligenciável na maioria dos seminaristas atuais”.
Trata-se de uma realidade também nossa. A mediocridade intelectual, infelizmente, é um fenômeno do mundo moderno. É lamentável que os muros das nossas casas  não nos protejam dessa triste realidade.
Nesse particular, as vítimas serão os católicos orientados por alguns desses pastores.
Se não bastasse a deficiência dos cursos de teologia, alguns formandos ainda se detêm longas horas com leituras pouco edificantes.
Negligenciar o estudo é falta grave contra nossa vida de pobreza.
II Capítulo Geral

Pe Emílio Carlos Mancini

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