quinta-feira, 14 de julho de 2011

Palavras não traduzem - Como explicar nossos dogmas?



Como explicar nossos dogmas em palavras de fácil compreensão, se o próprio dogma não é?
1-Como explicar que cremos que só existe um Deus, mas ele é três pessoas divinas, Pai Santo, Filho Santo e Espírito Santo?
2-Como explicar que o Filho Santo que existia desde toda a eternidade sendo um só Deus com o Pai Santo e o Espírito Santo um dia se criou no ventre de uma virgem?
3- Como explicar que esta virgem Maria não criou Deus porque Deus é criador e não criatura, é criador e não criado?
4-Como explicar que o Filho Santo criou a si mesmo no ventre dela e ela, que era criada, ao dizer o seu sim, nem por isso se tornou criadora do Deus que a criara? Como explicar Jesus? Como explicar Maria e os santos?
5- Como explicar que gerar é mais o que criar, por isso o Filho é eternamente gerado, mas não é criado?
6-Como explicar que Maria recebeu o Filho Santo no ventre e que concebê-lo não foi um ato criador porque o Filho eterno já existia? No ato carnal homem e mulher, atendendo ao desejo e à vocação de procriar, geram uma vida, vinda do conteúdo de ambos. Maria não gerou Jesus por ato carnal. Assumiu e aceitou quem se gerava nela!
7- Como explicar esta fé a um descrente e, mais do que descrente, a um cético? E como explicar a outro cristão que entende como adoração a Maria o que é apenas um tributo de veneração especial à serva? Como provar a eles que não vemos Maria como deusa?
8-Como explicar a um católico confuso que chama corretamente Maria como mãe de Deus, mas prega que Maria “criou” Deus aqui na terra, que a palavra “criou” não traduz o que Maria realmente fez?
9-Como explicar a ele que “cuidadora” de Deus não é “criadora” de Deus?
10- Como explicar que Maria não é eterna a um piedoso fiel que a chama de “eterna mãe de Deus”? Com provar a ele que, como todos nós, ela já estava na eterna mente criadora de Deus como projeto, mas ela ainda não existia e que só Deus é eterno? Ter sido eternamente escolhida pelo Deus que transcende ao tempo não é o mesmo que existir desde toda a eternidade. Deus sempre existiu. Maria começou a existir. Jesus era o Filho de Deus que aceitou viver no tempo e, um dia, começou a existir aqui, mas só aqui, porque já existia como Filho em Deus desde todo o sempre.
12-Como explicar que o Filho Santo é o próprio Deus que também é Pai Santo e Espírito Santo e que quando falamos do Filho de Deus encarnado estamos falando do próprio e único Deus?
13- Como explicar que mesmo sendo um só e único Deus, o Filho não é o Pai, nem este é o Filho e nem o Espírito Santo é o Pai? Como orientar um cristão a não chamar Jesus de Pai e a não dizer, orando, que Nossa Senhora criou Deus neste mundo?
14-Como pedir ao irmão que no seu entusiasmo proclama Maria filha do Pai, mãe do Filho e esposa do Espírito Santo que explique o que acabou de dizer, já que Deus não tem filha unigênita, nem é marido e não tem esposa? O que tais palavras significam?
15-Como explicar a outras religiões que Deus esteve aqui por alguns anos, nasceu de mulher, viveu sua infância e adolescência no seio de uma família, mas era Deus que encarnado e humanado, agia no tempo?
16- Como explicar que Deus tem poder de se tornar humano por algum tempo, embora o humano não tenha o poder de se tornar Deus nem por um segundo?
E como se pode ser claro sobre estes temas? Nossas palavras são pobres. Não traduzem o que cremos e, se não tomarmos cuidado com os verbos e os vocábulos, deturpam a fé.
Por isso, prestemos atenção ao nosso catecismo. Se prestarmos, jamais diremos que Nossa Senhora é “medianeira de todas as graças” e, sim, medianeira “de” graças. Deus não nos dá todas as graças por meio de Maria, mas Maria ora conosco por toda e qualquer graça que pedirmos que ela peça conosco.
Não temos que orar a Maria antes de orar o Pai Nosso. Podemos pedir a ela e aos outros santos que orem conosco, mas, segundo Jesus, podemos e devemos falar diretamente com o Pai e com Ele, ou usar o nome dele. (Mt 18,19). A Bíblia fala de intercessores humanos, que oram pelos outros, mas diz também que o único intercessor com poder é Jesus. Mas, ele nos dá o direito de falar ao Pai em seu nome sem nem sequer falar direto com ele (Jo 16,23-26) Podemos ir diretamente ao Pai. Por isso ele manda no Pai Nosso orar ao Pai e chamá-lo de Pai Nosso. (Mt 6,9)
Os santos são intercessores convidados, mas não intercessores obrigatórios. Ninguém deve desprezar a cumplicidade da prece dos salvos em Jesus, mas ninguém tem que primeiro falar com eles e só depois falar com Deus. Também não se deve diminuir o valor da prece de alguém que já está no céu.
E quem nega que haja pessoas no céu não deve ter lido os trechos que mostram o Deus rico em misericórdia (Ef 2,4) e Jesus que tem todo o poder no céu e na terra, (Mt 28,18) anunciando que viria buscar e levar com ele quem morreu na sua graça. ( Jo 14,3) Uma coisa é a ressurreição do último dia da humanidade e outra a ressurreição de cada um que morre agora. Virei e vos levarei para mim mesmo, disse ele! As parábolas de Jesus dão a entender, principalmente a do mendigo Lázaro (Lc 16,22 ), que existe um encontro pessoal do indivíduo com Deus e que não temos que esperar até o fim dos tempos para entrar no céu.
Como explicar tudo isso a quem não tem nem mesmo um catecismo, ou tem, mas ainda não o leu? O problema número um da nossa igreja continua sendo o estudo da fé. Aceitamos testemunhar nossa fé, mas raramente aceitamos estudá-la e aprofundar nossos conhecimentos. Preferimos o rosário entre os dedos ao livro sobre a mão. Preferimos dedilhar as contas do rosário a folhear as páginas da Bíblia e do Catecismo Católico. Um dia, isso mudará, mas somente quando todos tiverem entendido que Jesus é para ser amado e estudado! Foi o que Paulo e Tiago disseram:
Mas vós não aprendestes assim a Cristo, (Efésios 4 : 20)
O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco. (Filipenses 4 : 9)
E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles. (Romanos 16 : 17)
E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. (II Timóteo 3 : 15)
Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem. (I Timóteo 4 : 16)
Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito. (Tiago 1 : 25)
Questione o pregador sem estudo, na próxima vez que alguém pregar que está expulsando o demônio da árvore genealógica de sua família; que você pode comungar Maria; que ela tem o mesmo DNA que Jesus; que o sangue de Cristo no cálice é o mesmo derramado na cruz; que Maria só mereceu ser mãe de Cristo porque era virgem pura porque Jesus não nasceria de mãe que tivesse tido outros filhos; ou que Maria deixou de ser virgem depois de conceber Jesus; ou que Deus fará milagres no domingo à tarde às 15 h; ou que foi demônio que apagou a luz no estádio onde todos oravam e que Jesus a acendeu; ou quando ouvir um pregador sequioso por milagres expulsar do Brasil o demônio da dengue com seus mosquitos; ou, ainda, quando ouvir alguém desfilando mais de 40 doenças que estão sendo curadas naquele momento pela televisão.
Não engula tudo como se fosse doutrina católica. Pode ser doutrina de um grupo, mas não da Igreja como um todo. Mais Bíblia e mais Catecismo com mais teologia podem mudar muita coisa na nossa Igreja. Já sabemos que a falta deles levou muita gente para fora de nós e nos deu muitos pregadores que não sabem do que estão falando.
O assunto é provocador e os primeiros a corrigir seus conhecimentos e suas palavras devem ser os sacerdotes. E eu me incluo. Se alguém achar erro no que preguei ou prego provoque-me e prove que eu errei. De bom grado pedirei desculpas e me corrigirei. Espero o mesmo daquele padre que ensinou que devemos invocar Maria e os santos após a comunhão porque somos incapazes de receber Jesus e falar com ele sozinhos. Trocou o “podemos” pelo “devemos”. A Igreja não nos obriga a invocar os santos toda vez que falarmos com Jesus. Naquele caso, o padre impôs ao povo sua devoção pessoal. Mas ele não foi ordenado para pregar o que sente e, sim, o que a Igreja ensina! Nem ele, nem eu, nem você!
Cuidemos com as palavras sobre Deus. Como diz o Padre Antonio Vieira no sermão da sexagésima, "há pregadores que pregam palavras de Deus, mas não a Palavra de Deus!"

Padre Zezinho

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