
A MORTIFICAÇÃO
(Adolph Tanquerey – Extratos de "A vida espiritual explicada e comentada")
A mortificação contribui, com a penitência, para purificar das faltas passadas, mas o seu fim principal é premunir-nos contra as do presente e do futuro, diminuindo o amor do prazer, fonte dos nossos pecados.
Expressões bíblicas para designar a mortificação. Encontramos sete expressões principais nos livros santos, para designar a mortificação sob os seus diversos aspectos.
1. A palavra renúncia (Lc 14, 33): apresenta-nos a mortificação como um ato de desprendimento dos bens exteriores, para seguirmos a Cristo. Assim fizeram os apóstolos (Lc 5, 11)
2. É também uma abnegação ou renúncia a si mesmo(Lc 9, 23). E, na verdade, o mais terrível dos nossos inimigos é o amor próprio desordenado; eis o motivo por que é forçoso desapegar-nos de nós mesmos.
3. Mas a mortificação tem um lado positivo: é um ago que fere e atrofia as más tendências da natureza (Rm 8, 13).
4. Mais ainda é uma crucificação da carne e das suas concupiscências, pela qual cravamos, por assim dizer, as nossas faculdades à lei evangélica aplicando-as à oração, ao trabalho (Gl 5, 24).
5. Esta crucifixão, quando persevera, produz uma espécie de morte e de enterramento, pelo qual parecemos morrer completamente a nós mesmos e sepultar-nos com Jesus Cristo, para vivermos com Ele uma vida nova (Cl 3,3; Rm 8, 4).
6. Para exprimir esta morte espiritual. São Paulo serve-se doutra expressão: como, depois do batismo, há em nós dois homens, o homem velho que fica, ou a tríplice concupiscência, e o homem novo ou o homem regenerado, declara o Apóstolo que é nosso dever despojar-nos do homem velho, para nos revestirmos do novo (Cl 3, 9).
7. E como isto se não faz sem combater, declara ainda que a vida é combate, que os cristãos são lutadores ou atletas que castigam o seu corpo e reduzem a servidão.
Expressões modernas. Hoje vai-se preferindo o uso de expressões mitigadas, que indicam o fim que se pretende atingir, antes que o esforço que para isso se tem de empregar. Diz-se que é mister reformar-se a si mesmo, governar-se a sim mesmo, fazer a educação da vontade, orientar a sua alma para Deus. Estas expressões são exatas, contanto que se saiba que ninguém pode reformar-se e governar-se a si mesmo, sem combater e mortificar as más tendências que em nós existem; que não se faz a educação da vontade, senão mortificando, disciplinando as faculdades inferiores, e que não há possibilidade de alguém se orientar para Deus senão desapegando-se das criaturas e despojando-se dos próprios vícios.
Definição: Pode-se, pois, definir a mortificação: a luta contra as más inclinações, para as submeter à vontade, e esta a Deus. É menos uma virtude que um complexo de virtudes, o primeiro grau de todas as virtudes, que consiste em vencer os obstáculos, no intuito de restabelecer o equilíbrio das faculdades, a sua ordem hierárquica. Assim se vê melhor que a mortificação não é um fim, senão um meio; o homem não se mortificar senão para viver uma vida superior, não se despoja dos bens exteriores senão para melhor conseguir os bens espirituais, não se renuncia a si mesmo senão para possuir a Deus, não luta senão para gozar da paz, não morre a si mesmo senão para viver da vida de Cristo, da vida de Deus. A união com Deus é, pois, o fim da mortificação. Assim, melhor se compreende a sua necessidade.
(Adolph Tanquerey – Extratos de "A vida espiritual explicada e comentada")
A mortificação contribui, com a penitência, para purificar das faltas passadas, mas o seu fim principal é premunir-nos contra as do presente e do futuro, diminuindo o amor do prazer, fonte dos nossos pecados.
Expressões bíblicas para designar a mortificação. Encontramos sete expressões principais nos livros santos, para designar a mortificação sob os seus diversos aspectos.
1. A palavra renúncia (Lc 14, 33): apresenta-nos a mortificação como um ato de desprendimento dos bens exteriores, para seguirmos a Cristo. Assim fizeram os apóstolos (Lc 5, 11)
2. É também uma abnegação ou renúncia a si mesmo(Lc 9, 23). E, na verdade, o mais terrível dos nossos inimigos é o amor próprio desordenado; eis o motivo por que é forçoso desapegar-nos de nós mesmos.
3. Mas a mortificação tem um lado positivo: é um ago que fere e atrofia as más tendências da natureza (Rm 8, 13).
4. Mais ainda é uma crucificação da carne e das suas concupiscências, pela qual cravamos, por assim dizer, as nossas faculdades à lei evangélica aplicando-as à oração, ao trabalho (Gl 5, 24).
5. Esta crucifixão, quando persevera, produz uma espécie de morte e de enterramento, pelo qual parecemos morrer completamente a nós mesmos e sepultar-nos com Jesus Cristo, para vivermos com Ele uma vida nova (Cl 3,3; Rm 8, 4).
6. Para exprimir esta morte espiritual. São Paulo serve-se doutra expressão: como, depois do batismo, há em nós dois homens, o homem velho que fica, ou a tríplice concupiscência, e o homem novo ou o homem regenerado, declara o Apóstolo que é nosso dever despojar-nos do homem velho, para nos revestirmos do novo (Cl 3, 9).
7. E como isto se não faz sem combater, declara ainda que a vida é combate, que os cristãos são lutadores ou atletas que castigam o seu corpo e reduzem a servidão.
Expressões modernas. Hoje vai-se preferindo o uso de expressões mitigadas, que indicam o fim que se pretende atingir, antes que o esforço que para isso se tem de empregar. Diz-se que é mister reformar-se a si mesmo, governar-se a sim mesmo, fazer a educação da vontade, orientar a sua alma para Deus. Estas expressões são exatas, contanto que se saiba que ninguém pode reformar-se e governar-se a si mesmo, sem combater e mortificar as más tendências que em nós existem; que não se faz a educação da vontade, senão mortificando, disciplinando as faculdades inferiores, e que não há possibilidade de alguém se orientar para Deus senão desapegando-se das criaturas e despojando-se dos próprios vícios.
Definição: Pode-se, pois, definir a mortificação: a luta contra as más inclinações, para as submeter à vontade, e esta a Deus. É menos uma virtude que um complexo de virtudes, o primeiro grau de todas as virtudes, que consiste em vencer os obstáculos, no intuito de restabelecer o equilíbrio das faculdades, a sua ordem hierárquica. Assim se vê melhor que a mortificação não é um fim, senão um meio; o homem não se mortificar senão para viver uma vida superior, não se despoja dos bens exteriores senão para melhor conseguir os bens espirituais, não se renuncia a si mesmo senão para possuir a Deus, não luta senão para gozar da paz, não morre a si mesmo senão para viver da vida de Cristo, da vida de Deus. A união com Deus é, pois, o fim da mortificação. Assim, melhor se compreende a sua necessidade.
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