quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Apascenta as minhas ovelhas

Podemos detectar que, quase sempre, nas faltas de humildade se encontra uma das causas radicais da desunidade com Deus e com os próximos Quando existe desunidade, vocês poderão ver que existe sempre por trás a soberba, algum apego a si mesmo, ou de certo modo uma certa forma de não-humildade.
Apascenta minhas ovelhas:
Jo 21,15-19
Mat 11,28-29
Mat.23,1-12
Servir a Igreja e a comunidade como discípulo missionário de Jesus, é servir com alegria, partilhar com humildade, não almejando status, elogios, honras. Não exigir nada, a não ser de nós mesmos, para fazermos bem, e assumir com responsabilidade o nosso compromisso de colaborador para a construção do Reino do Pai. Não usar nunca a religião, para enganar a comunidade, para adquirir algum tipo de poder, para se exaltar ou humilhar o irmão. Não assumimos a missão para sermos servidos, mas para servir, e servir com alegria e humildade. Por isso nos disse Jesus: "...o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve. Quem se exalta será humilhado e quem se humilhar será exaltado" (v. 11-12).
Aprendamos com Cristo que é o nosso único mestre, seguindo seu exemplo, na tentativa de ser igual a ele, quando nos diz: "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração" (Mt 11,29).
Na humildade nenhuma tentação encontrará espaço em nossa vida, em nosso coração, assim sempre venceremos o mal e as suas tentações.

SOBRE A HUMILDADE
Viver a humildade significa simplesmente aceitar a ser aquilo que se é.
“Santa Teresa d’Ávila disse: Deus é a suma Verdade... e ser humilde é andar na verdade. Grande verdade é que nada de bom procede de nós, a não ser a miséria de ser nada. Quem não entende isso anda na mentira...” (Santa Teresa d’Ávila)
E todos nós somos pecadores.
A mim pareceu pleno de sabedoria e muito tem me ajudado a vivê-la o esquema de São Bento, que poderia ser sintetizado da seguinte forma.
Que sejamos humildes para servir o irmão como Cristo o foi.
A Sagrada Escritura clama a nós, dizendo: “Todo aquele que se exalta, será humilhado e todo aquele que se humilha, será exaltado” (Lc. 14,11). Dizendo isso, mostra-nos que toda elevação é uma forma de orgulho. Assim, o primeiro degrau da humildade acontece quando os irmãos colocam o temor de Deus sempre diante de seus olhos e fogem de toda espécie de mal.
O segundo degrau da humildade - Servir aos irmãos, cumprir a Vontade de Deus - ocorre quando os irmãos não amando a própria vontade, não realizando seus próprios desejos, mas imita com suas ações o que diz a Palavra do Senhor: “Não vim fazer a minha vontade, mas a daquele que me enviou” (Jo. 6,38).
O terceiro degrau da humildade - Obediência as autoridades constituídas - ocorre quando os irmãos por amor a Deus, submetem-se as autoridades com toda obediência, imitando o Senhor de quem diz o apóstolo: “Fez-se obediente até a morte” (Fl. 2,8).
O quarto degrau da humildade - Abraçar a paciência - é quando os irmãos na obediência das coisas duras e contrárias, ou mesmo em quaisquer injustiças que lhe são feitas, abraça a paciência no silêncio de sua consciência e, agüentando, não desanima nem se retira ou se exclui, pois diz a Escritura: “Aquele que perseverar até o fim é o que será salvo” (Mt. 10,22b).
O quinto degrau da humildade - Nada esconder ou ocultar as autoridades e seus superiores, não usar máscaras - ocorre quando os irmãos, por uma humilde confissão, não escondem aos seu superiores todos os maus pensamentos que vêm ao seu coração e as faltas cometidas ocultamente. As Sagradas Escrituras nos animam a esse respeito, quando dizem: “Revela ao Senhor o teu caminho e espera Nele” (Sl. 36,5). E também: “Dei-vos a conhecer, Senhor, o meu delito e não escondi minhas injustiças. Eu disse: vou declarar minhas injustiças contra mim mesmo diante do Senhor, e vós perdoastes a impiedade do meu coração” (Sl. 31,5).
O sexto degrau da humildade - Ser contente em toda situação -ocorre quando os irmãos estão contentes com toda a sorte de coisas ruins e com situações extremas. E, em relação a todas as coisas que lhes são mandadas, julgam-se a si mesmos como os operários mais indignos, dizendo de si, como o profeta: “Fui reduzido a nada e nem percebi; tornei-me como um animal junto de Vós, mas estou sempre convosco” (Sl. 72,22-23).
O sétimo degrau da humildade - Buscar o último lugar, ser nada, prática da pequenez - ocorre quando os irmãos, não só com sua língua, mas por um íntimo sentir do coração, acreditam que são inferiores a todos e piores do que eles, chegando a humilharem-se e dizerem, com o profeta: “Eu, porém, sou um verme e não um homem, a vergonha dos homens e o rejeitado do povo” (Sl. 21,7). E de novo: “É bom que me tenhais humilhado, para eu aprender os vossos mandamentos” (Sl. 118, 71-72). “Não foi sem razão que São Paulo recomendava aos cristãos: “Considerai os outros superiores a si mesmos” (Fil 2,3).
O oitavo degrau da humildade - Viver as normas, regras,estatutos - ocorre quando os irmãos nada fazem além do que lhes recomendam as regras comuns da comunidade.
O nono degrau da humildade - Silêncio, discrição, modéstia, sigilo e falar apenas o necessário - ocorre quando os irmãos proíbem o falar à sua língua e, mantendo-se habitualmente calados, nada dizem até ser interrogado, uma vez que a Escritura nos mostra que: “No muito falar não se foge do pecado” (Pr. 10,19); e ainda: “O homem linguarudo não se orientará sobre a terra” (Sl. 139,12).
O décimo degrau da humildade - Falar com mansidão e prudência - ocorre quando os irmãos, ao falarem, o fazem de maneira suave e humildemente, com seriedade e poucas palavras, dizendo coisas razoáveis e também não falando alto demais, conforme está escrito: “O sábio se manifesta com poucas palavras” (Pr. 17,27).
Fazer tudo por amor: tendo subido todos esses degraus da humildade, os irmãos da comunidade chegarão àquele amor de Deus que, sendo perfeito, coloca para fora o temor. Desse modo, tudo aquilo que antes observavam, não sem um certo temor, agora começam a guardar sem nenhum esforço, como que naturalmente, não pelo temor do inferno, mas pelo amor de Cristo, pelo próprio bom costume e pelo prazer de praticar as virtudes. Essas coisas todas, no seu operário já purificado das más tendências e dos pecados, o Senhor se dignará mostrar por obra do Espírito Santo.
O primeiro passo para se alcançar a humildade é aceitar as humilhações, as mortificações. Pode acontecer, por exemplo, que alguém fale mal de você, que pode ser no escritório, no teu ambiente de trabalho, talvez possa existir alguma incompreensão com uma outra pessoa, ou até mesmo uma verdadeira calúnia... É necessário saber aceitar estas tribulações e dificuldades.
O segundo passo é o de amar essas humilhações, o que significa já alguma coisa a mais do que simplesmente aceitar.
Isto pode servir para nós, que doamos a nossa vida pelos outros, quando, por exemplo, surgem na comunidade acusações, julgamentos, principalmente por parte daquelas pelas quais nós as ajudamos. Quase sempre são críticas que, sem dúvida, têm algum quê de verdade, mas são ao que nos parecem exageradas. É difícil amar a tais humilhações, mas é muito importante que o façamos, pois é o que nos ajudará a crescer na vida de Deus.
O terceiro passo é o de preferir as humilhações: não só amá-las, mas ficar contentes por elas. Isto se dá, quando, por exemplo, alguém fala mal de ti e você diz: “É uma graça de Deus que eu estou recebendo neste momento...”. Este é o grau máximo ao qual todos devemos ter como meta, porque nos coloca naquela humildade que nos aproxima cada vez mais de Jesus e de Maria.
As calúnias, sem dúvida, na medida do possível, devem ser esclarecidas, mas sempre com desapego, vivendo o Evangelho, que nos diz, por exemplo: “Felizes sois, quando mentindo disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5, 11-12).
Viver a humildade é verdadeiramente fundamental também na espiritualidade da unidade.
Porque uma das causas profundas da falta de unidade é a ausência de humildade.
Cada um de nós tem qualidades positivas e aspectos deficitários. Se defendermos os nossos aspectos positivos sem colocar em seu devido lugar os negativos, entraremos em choque com os outros.
A unidade é possível somente se somos livres e completamente desapegados de tudo.
Alguém que queira se defender a todo custo de algo que lhe possa parecer correto, certamente nem sempre o fará de modo equilibrado, porque a sua maneira de julgar estará contaminado pelo amor próprio, pelo apego, às vezes inconsciente, ou até mesmo pode ser alguma coisa que o impede de ver completamente a luz de Deus.
A humildade, entretanto, se torna necessária, sobretudo quando um responsável da comunidade nos repreende de uma forma que nos pareça não muito adequado. Neste caso é preciso ter muito cuidado, porque mesmo por baixo de alguma avaliação não completamente precisa, ou até mesmo pouco feliz no seu modo de exprimir-se, quase sempre pode existir uma verdade preciosa para nós e o fato de não acolhê-la nos impedirá de crescer.
A mesma coisa poderá acontecer com as pessoas em relação às quais devemos exercer alguma responsabilidade. Quando nos dizem algo que não conseguimos aceitar a tendência humana natural seria a de nos justificarmos.
Pelo contrário, nestes casos, devemos sempre procurar escutar, ser humildes, reconhecer aquilo que nos dizem e quando houver razão procurar corrigir-se. Logicamente será necessário saber distinguir a autoridade, a função à qual fomos chamados a exercer, da nossa pessoa, entretanto, o importante é ter a humildade para com todos, porque somente assim se conseguirá realizar a verdadeira unidade.
Podemos detectar que, quase sempre, nas faltas de humildade se encontra uma das causas radicais da desunidade com Deus e com os próximos Quando existe desunidade, vocês poderão ver que existe sempre por trás a soberba, algum apego a si mesmo, ou de certo modo uma certa forma de não-humildade.
Não foi sem razão que São Paulo recomendava aos cristãos: “Considerai os outros superiores a si mesmos” (Fil 2,3).
Os santos de todos os tempos nos ensinam a reconhecer-nos como os últimos, porque são eles que vêm as coisas à luz de Deus.
Jesus apascentou na Fidelidade ao Pai
Há um versículo que aparece pelo menos quatro vezes na Sagrada Escritura: "O justo vive pela sua fidelidade (fé)"(Habacuc 2, 4; Rm 1,17; Gl 3,11; Hb 10,36).
A palavra fidelidade na Bíblia é também traduzida como "fé" a Deus. É a atitude daquele que crê e que obedece o Senhor.
Neste sentido São Paulo fala aos romanos da "obediência da fé" (Rm 1,5). A fé é um ato de adesão a Deus; isto é, submissão que implica obediência à Sua santa e perfeita vontade. A fraqueza da nossa natureza humana impede muitas vezes que a nossa fé seja coerente; quer dizer, às vezes os nossos atos não estão conforme às exigências da fé. Portanto, não basta crer, é preciso obedecer. Depois que o povo hebreu recebeu a Lei de Deus por meio de Moisés, exclamou: "Tudo do que Iahweh falou, nós o faremos e obedeceremos" (Ex 24,7). Esta era a vontade do povo; no entanto, sabemos que este mesmo povo prevaricou tantas vezes prestando culto aos deuses dos pagãos. Depois que Josué, no limiar da morte, conclamou o povo, a ser fiel a Deus, e só a Ele prestar culto na Terra que Deus lhe dava, o povo respondeu: "A Iahweh nosso Deus serviremos e à sua voz obedeceremos" (Js 24,24). Mas sabemos que logo após atravessar o rio Jordão, e tomar posse da Terra tão esperada, este povo não demorou a render-se aos encantos dos deuses dos cananeus. Isto mostra que não é fácil, também para nós, viver a fidelidade a Deus, pois também hoje os deuses falsos nos atraem, e querem ocupar o nosso coração.
A obediência sempre foi e sempre será a prova e a garantia da fidelidade.
Foi por ela que Jesus salvou a humanidade, porque fez exatamente o que o primeiro Adão recusara fazer.
Na obediência radical a Deus o Cristo desatou o nó da desobediência de Adão e nos reconciliou com o Pai. Da mesma forma, ensinam os Santos Padres, pela obediência da Virgem, ela desatou o laço da desobediência de Eva que lançou a humanidade na perdição. A partir daí, a obediência a Deus passou a ser a marca principal daquele que crê. Ela é o melhor remédio para os males que o pecado original deixou em nossa natureza: orgulho, vaidade, presunção, auto-suficiência, exibicionismo, etc.
O profeta afirma que: "A obediência é melhor do que o sacrifício"(1 Sm 15,22). E Thomas de Kempis, na "Imitação de Cristo", assegura que: "Obedecer é muito mais seguro do que mandar".
A outra característica da fidelidade a Deus é o firme propósito de servir-lhe sempre e com perseverança e reta intenção, mesmo nos momentos mais difíceis.
Como agrada a Deus o filho fiel!
O profeta diz: "Iahweh guarda os passos dos que lhe são fiéis"(2 Sm 22,26).
E o Senhor Jesus disse: "Muito bem servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Vem alegrar-te com o teu Senhor" (Mt 25,21).
Tudo o que recebemos de Deus nesta vida, é este "pouco" sobre o qual é testada a nossa fidelidade a Deus.
A fidelidade está muito ligada à perseverança e à paciência.
Santo Agostinho disse: "Os que perseveram em vossas companhias sejam vossos modelos. E os que vão ficando pelas calçadas, aumentem vossa vigilância".
E o grande São João da Cruz ensinava que: "A constância de ânimo, com paz e tranqüilidade, não só enriquece a pessoa, como a ajuda muito a julgar melhor as adversidades, dando-lhes a solução conveniente."
Mas, para que haja serviço a Deus, perseverante e alegre, e para que possamos amar e cumprir os seus mandamentos é preciso uma vida de piedade, vigilância e oração, sem o que, a alma esfria. Sabemos que "mosca não assenta em prato frio"; quando a alma esfria, os demônios se aproximam dela para vencê-la pela tentação.
Não seremos julgados pela nossa capacidade intelectual, e nem pela grandeza das nossas obras, mas, como disseram os santos, pela pureza do nosso amor a Deus e pela perseverança nesta vivência. Jesus garantiu que diante de todas as adversidades que virão, "quem perseverar até o fim será salvo" (24,13).
Ser fiel não é fazer o “meu plano bom e bem intencionado”, nem “fazer o bem do meu jeito”, nem “viver a vocação como eu desejo vivê-la”, mas realizar o plano e o bem que a Vontade de Deus me pede, assumir o “modo” de seguir a Cristo que ele deseja e me indica com palavras de obediência, com acontecimentos, com fatos, com contrariedades, com alegrias e inspirações inesperadas…
Já disse alguém que, se queremos ser fiéis, devemos estar dispostos a não ser o “santo” que nós desejaríamos, mas o “santo” que Deus quer que sejamos, e que quase nunca coincide com o “nosso”.

Pe.Emílio Carlos+
tema proferido :
Dia de Espiritualidade RCC São Carlos
05.02.2012

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