quinta-feira, 21 de julho de 2011

Amor Conjugal - Oásis fértil no deserto do mundo


Deus é amor. Fomos criados por amor. O Pai, no seu amor infinito, em um ato de doação de si, cria o homem, como filho, à sua Imagem e semelhança, capaz de amar e de receber amor. Deus quer a relação de uns com os outros. A comunhão com Deus faz o seu amor circular entre nós.
A nossa comunhão com os seres humanos e com as criaturas faz circular o amor de Deus pelo mundo. Assim, tudo se vê envolvido no amor. A essência de Deus nos move em sua força para a relação, para a aliança, para o amor mútuo.
O matrimônio foi instituído por Deus desde a criação do homem e da mulher. Ele os criou para a comunhão, para a complementaridade e para que, na diversidade, construíssem a unidade, tendo como referência a própria Trindade, modelo de comunhão e unidade. Todas as culturas exaltam, de alguma maneira, a grandeza do matrimônio!
Amor conjugal, sacramento do Deus Amor
Pela união sacramental dos esposos, eles se tornam expressão do amor da Trindade, amor de unidade, de comunhão e de oferta de si, da mesma forma como Cristo amou e se ofertou a sua Igreja e por ela deu a vida. Por meio dos cônjuges, Deus dilata sua família a cada dia. O Espírito Santo é a fonte do amor e a força que faz crescer este amor entre os dois, ampliando-se nos filhos que Deus lhes confiar, em vista da construção do seu Reino, de amor e de paz.
O Amor Trinitário se derrama sobre nós, suas criaturas amadas, em três dimensões interligadas: o Amor Ágape (como o amor de uma mãe por seu filho. O Pai que cuida do mundo, como uma mãe de seu filhinho); o Amor Eros, associado à paixão de amor, ao deleite da união; e o Amor de Phillia (de amizade), que está associado à aliança de amor.
É fundamental para a felicidade do casal a vivência dessas três dimensões do Amor: a sadia sedução, a amizade recíproca forte e a doação de si ao outro. A seguir, refletiremos sobre cada uma dessas dimensões.

Amor Eros
É força que me impulsiona ao outro e ao grande Outro por meio dos sentidos. Assim, podemos experimentar este Amor por meio da beleza, na natureza, na arte em suas diversas manifestações (como a música, a pintura, etc.). É o amor Eros que atrai um ao outro, mas ele não sacia o coração do homem. Está condenado à carência, à miséria, à infelicidade e a estar sempre incompleto.
Com a ajuda desse mediador, que é o Eros, podemos sair da pobreza para chegar à riqueza, da ignorância para chegar ao conhecimento, do material para chegar ao espiritual e à contemplação do Belo em si mesma.
O enamoramento é essa experiência onde há uma transformação radical da sensibilidade, da mente, do coração. Duas pessoas, ao enamorarem-se, tornam-se indispensáveis uma a outra. Quando o Eros consegue o seu objetivo, tranquiliza-se, mas depois aborrece-se. Tem o que já não lhe falta. É um poder que, em todo ser, tende e anseia à plenitude. Não só a sexualidade está estreitamente vinculada ao Eros, também o está o desejo de realidades espirituais sedutoras, como a beleza espiritual. Graças ao Eros, o filósofo tem paixão pela sabedoria, e o místico tem paixão por Deus (eros cognitivo – Paul Tillich teólogo).

Amor de Phillia (Amor de Amizade)
É menos instintivo, não é uma paixão, não é um dever. É amor, é virtude, é desejo de presença, mas não é Eros.
É agradável, útil e supõe generosidade e entrega. Consiste mais em amar do que em ser amado. É celebrar uma presença, mas não é pedir, é dar graças.
Amigo é aquela pessoa que melhor nos conhece, com quem se pode contar, com quem se partilha recordações, esperanças e temores, felicidades e infelicidades.
Onde existe amizade autêntica, surgem outras virtudes espontaneamente. Supõe a criação de espaços de “encontro”, de divertimento, nos quais predomina o “nós”. Implica em cultivar: compreensão, adaptação aos ritmos naturais do amigo, cordialidade e ternura, veneração pela dignidade do amigo, perseverança e confiabilidade. Ela requer ser cultivada. Existe uma arte a aprender. Pode ser uma escola de virtude quando encaminhada para o bem do outro e que deve também, de alguma forma, transbordar para os outros.
Eros e Philia podem andar juntos, mas não se confundem. Eles se misturam quase sempre, mas quando o Eros se vê satisfeito, desgasta-se e morre, enquanto que o Philia se engrandece cada vez que se vê satisfeito. O amor Eros, quando centralizado em si mesmo, é reducionista, limitando-se à autossatisfação mútua, mas quando é ampliado para além de si, em vista do Bem, ele gera realização, experiência de doação e unidade. O Amor de Amizade também é limitado e alcança poucos (10 a 20 pessoas), mas existe uma forma de amor mais universal e perfeita, que realiza e plenifica – é o Amor Ágape.

Amor Ágape, para além do Eros e do Philia
É o amor que possibilita a abrangência universal e incondicional e que nos possibilita amar os inimigos, os que nos são indiferentes, os que nos incomodam. É o amor perfeito de Deus, revelado em Jesus e por ele provado na entrega total de si, por amor. É o amor do Pai que doa Seu Filho unigênito para resgatar os filhos amados. É o amor do Espírito que se aniquila para habitar em nós. Foi o amor que moveu os profetas no Antigo Testamento e os santos a perseverarem na fé, mesmo diante dos inúmeros desafios. Foi o amor entre os discípulos que os fez amarem-se até o extremo de estarem dispostos a dar a vida uns pelos outros. Deus não cria servos, mas filhos livres, chamados à liberdade.
O Amor Ágape exerce a função de horizonte em relação ao amor Eros e Philia. Impede que tanto um como o outro permaneçam prisioneiros de si mesmos. Impulsiona-os a irem além de todo o espaço delimitado de um e de outro. É este Amor, cuja fonte é Deus, que ama o homem e a Ele se dá, dando-lhe a dignidade de filho, seduzindo-o e atraindo-o a si por meio do amor em suas três dimensões: Eros, de Philia e de caridade.
Bento XVI propõe a relação circular entre o amor Eros e Ágape: “Quanto mais os dois encontrarem a justa unidade, embora em distintas dimensões (entre amigos, entre casal, entre Criador e criatura), na única realidade do amor, tanto mais se realiza a verdadeira natureza do amor em geral”. Eros e Ágape não se encontram em dois planos distintos ou contrapostos, representam duas atitudes e duas formas de amor estreitamente correlacionadas entre si. O Eros, embora seja inicialmente ambicioso, depois, à medida que se aproxima do outro, far-se-á cada vez menos perguntas sobre si próprio, procurará sempre mais a felicidade do outro, doar-se-á e desejará “existir para” o outro (Deus caritas est, 7).
Nesse caminho, existe uma sadia tensão pela transcendência pessoal e dual em direção a um “nós”. E, vivido em Deus, no seu amor, tende ao crescimento, à comunhão de alma, de coração, de corpo, de bens, na saúde, na doença, nas tristezaa, na alegria. O amor conjugal, portanto, deve abarcar essas três dimensões (Eros, Phillia e Ágape), que, interligadas e bem ordenadas, transformarão a família num oásis transbordante de vida, em meio ao deserto do mundo sedento de amor autêntico. 
 
Laura Martins, Assistente Social, Psicopedagoga
Missionária da Comunidade Shalom 

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