sexta-feira, 22 de abril de 2011

O que é a Santa Missa instituída por Cristo

Torna-se fundamental não esquecer aquelas palavras de São Paulo: "Guarda o precioso depósito, pela virtude do Espírito Santo que habita em nós." (2 Tm 1,14)

Esse depósito, sabemos, é a própria Revelação da Santíssima Trindade, no Pai, no Filho e no Espírito Santo, aos homens, mediante a Sua Santa Igreja Católica. Por amor, Deus quis se revelar e ensinar a Sua santíssima doutrina. "Toda a finalidade da doutrina e do ensinamento deve ser colocada no amor que não acaba. Com efeito, pode-se facilmente expor o que é preciso crer, esperar ou fazer; mas, sobretudo, é preciso fazer sempre com que apareça o Amor de Nosso Senhor, para que cada um compreenda que cada ato de virtude perfeitamente cristão não tem outra origem senão o Amor, e outro fim senão o Amor." (Catecismo Romano, prefácio, 10)

Dentre os muitos desafios que urgem por serem enfrentados, encontra-se o de se explicar ao povo, mesmo o católico que freqüenta a igreja todos os fins de semana e enche as fileiras dos grupos de oração e dos movimentos eclesiais com um trabalho apostólico digno dos mais altos louvores, as bases daquela que é o centro da nossa vida espiritual: a Santa Missa. "A celebração do mistério pascal, conforme nos ensinou claramente o Sacrossanto Concílio Vaticano II, constitui o cerne do culto religioso do cristão no seu desenvolvimento cotidiano, semanal e anual." (Carta Apostólica de Sua Santidade, o Papa Paulo VI, "Mysterio Pascale", sobre a Celebração do Mistério Pascal, em 14 de fevereiro de 1969)

Com efeito, pela onda teologicamente modernista e disciplinarmente liberal que atravessa a Igreja de Cristo, tentando, como que num derradeiro ataque de Satanás, destruir a Santa Tradição, chegamos, nos tempos atuais, a esquecer por completo o que é a Missa. Foge de nossa compreensão, no mais das vezes, o que ela realmente é, e, via de conseqüência, substituímos sua essência pelos elementos acidentais que dela fluem. Para que isso seja corrigido, impõe-se a correta exposição da doutrina e a mais ampla catequese, que atinja o douto e o simples, o erudito e o humilde. Tal é a finalidade do presente estudo.

Cumpre, em primeiro plano, dizer o que a Santa Missa não é. Ela não é uma simples reunião de oração, onde os fiéis leigos se reúnem sob a presidência do padre. Tampouco, ela é apenas um culto, onde cantamos, louvamos, pedimos perdão, ouvimos a Palavra de Deus e sua pregação. A Missa não se trata de um programa psicológico, onde procuramos atrair as pessoas para que se sintam bem e busquem forças para a semana que se inicia, nem ao menos é uma estratégia evangelística ou de pregação, para buscar as "ovelhas perdidas." Não é somente um ato público, oficial, em que o povo católico congregado, reza junto com um diretor, o padre. Outrossim, cabe salientar que a Missa não é uma celebração nostálgica, ou uma encenação histórica, ainda que piedosa, do que Jesus fez na última ceia. Tudo isso, é verdade, pode ser santo, ungido, e nos levar a Deus, mas caberia muito mais à definição de um culto de uma igreja evangélica.

As reuniões de oração são importantes. Dos círculos de meditação e reflexão espiritual às famílias que se juntam para recitar o rosário; dos grupos de oração na linha da renovação carismática àqueles que cantam o Ofício Divino, na Liturgia das Horas; das diversas orações que se fazem em equipes nos mais variados movimentos até aquelas comunidades religiosas que fiam nos formulários oficiais da Santa Igreja; toda a forma católica de oração é importantíssima, pois nos faz entrar em contato com nosso Soberano Deus, Rei e Senhor do Universo.

Porém, a Missa é mais do que isso. Ela é o único e suficiente sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecido na Cruz, não recordado de forma encenada, mas tornado realmente presente em nossas igrejas. Para isso, temos um sacerdote e um altar. Sacerdote é aquele que, em qualquer religião, preside um sacrifício real e verdadeiro. Altar é o lugar onde esse sacrifício é oferecido (por isso, os protestantes, que não crêem na atualidade do sacrifício, não chamam a seus pastores de sacerdotes, nem têm altares em suas igrejas).

Iremos aprofundar esse conceito, no decorrer desse artigo.

A Criação e o pecado original

Tendo Deus criado o mundo, nele colocou Sua criatura mais excelente, o homem, feito à imagem e semelhança do Seu Criador. "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra." (Gn 1,26) Era vontade de Deus que o homem permanecesse livre. Diz o Catecismo da Igreja Católica: "Deus criou o homem à Sua imagem e o constituiu na Sua amizade. Criatura espiritual, o homem só pode viver esta amizade como livre submissão a Deus." (Cat. 396)

Livre, o homem pode optar entre obedecer a Deus ou recusar Sua ordem. Essa liberdade foi posta a prova, e a obra máxima das mãos do Senhor caiu, pecou. "O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança no Criador e, abusando da sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. (...) Neste pecado, o homem preferiu-se a si mesmo a Deus, e com isto menosprezou a Deus: optou por si mesmo contra Deus, contrariando as exigências do seu estado de criatura e conseqüentemente de seu próprio bem. Criado em um estado de santidade, o homem estava destinado a ser plenamente ?divinizado? por Deus na glória. Pela sedução do Diabo, quis ?ser como Deus?, mas ?sem Deus, e antes de Deus, e não segundo Deus.?" (Cat. 397-398)

O pecado do homem o afasta de Deus. Por essa primeira desobediência, nossos primeiros pais transmitiram a todos os homens uma natureza privada de glória, justiça e santidade. Não, como afirmaria Calvino, deixando o homem em um estado total de corrupção, mas sujeitando-o ao sofrimento, à morte, à ignorância e ao rompimento com Deus. Pelo pecado, foi como que se um abismo se abrisse entre um Deus santo e uma humanidade pecadora, um Criador justo e uma criatura corrupta e corruptível.

Assim se expressa o Concílio Ecumênico de Trento, a respeito do pecado original:

"I. Se alguém não acreditar que Adão, o primeiro homem, quando anulou o preceito de Deus no paraíso, perdeu imediatamente a santidade e justiça em que foi constituído, e incorreu, por culpa de sua prevaricação, na ira e indignação de Deus, e conseqüentemente na morte com que Deus lhe havia antes ameaçado, e com a morte em cativeiro, sob o poder daquele que depois teve o império da morte, ou seja, o demônio, e não confessa que Adão, por inteiro, passou, pelo pecado de sua prevaricação, a um estado pior, no corpo e na alma, seja excomungado.

II. Se alguém afirmar que o pecado de Adão prejudicou apenas a ele mesmo e não à sua descendência, e que a santidade que recebeu de Deus, e a justiça com que perdeu, a perdeu para si mesmo, não incluindo nós todos, ou que marcado ele com a culpa de sua desobediência, apenas repassou a morte e penas corporais a todo gênero humano e não o pecado, que é a morte da alma, seja excomungado, pois contradiz o Apóstolo que afirma: ?Por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, e desse modo foi passada a morte a todos os homens por aquele em quem todos pecaram.?" (Decreto sobre o Pecado Original; Sessão V, celebrada sob o Sumo Pontífice Paulo III, em 17 de junho de 1546)

Por misericórdia, entretanto, o Senhor prometeu a Adão e Eva, que enviaria um Salvador, para remover a culpa devida pelo pecado. Logo em seguida à transgressão de nossos primeiros pais, Deus diz a Satanás, metamorfoseado em forma de serpente: "Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela." (Gn 3,15a) Esse descendente da mulher é o Cristo, o Salvador. A partir dessa promessa, Deus vai executando Seu plano de formar, chamar e eleger um povo, do qual sairá o Messias, o Redentor do mundo.

A Lei Moral inscrita nos corações dos homens, e a noção de sacrifício

Mesmo afastada de Deus, a humanidade reconhece Sua dependência do Criador. O pecado original afetou o relacionamento do homem com Seu Senhor, privando a natureza humana de santidade e de justiça. Todavia, já os filhos de Adão e Eva sentiram a necessidade de aplacar a ira divina e tentar restituir a Deus pela ofensa causada pelo pecado. O capítulo 4 do livro do Gênese descreve Caim e Abel oferecendo sacrifícios ao Criador.

Em todas as civilizações do mundo antigo, vemos o homem procurando Deus, ainda que não O encontre em Sua plenitude. Isso se deve ao desejo por Deus, que está impresso em nossos corações. A vontade do homem em buscar o sobrenatural foi algo que o pecado original não afetou. Pela própria razão, diz São Tomás, podemos concluir que existe um Deus. O universo é simplesmente inexplicável sem Sua presença. "O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar." (Cat. 27)

Apesar do pecado, continuou no homem, não só um desejo por Deus, mas também uma certa consciência do que é reto ? ainda que não o pratique sem a ajuda da graça. Essa consciência é fruto da lei natural, "que permite ao homem discernir, pela razão, o que é o bem e o mal, a verdade e a mentira." (Cat. 1954) Não se trata de uma revelação do Senhor ao homem, mas de algo que se encontra em seu próprio coração, e que não foi atingido pela queda original. Essa norma natural é uma verdadeira Lei Moral, universal e absoluta. Pertence ao campo da Ética, e a podemos encontrar, de formas mais ou menos perfeitas, em todos os povos e culturas do mundo, mesmo nas mais afastadas de Deus.

Essa Lei Moral manda ao homem que não cometa assassinato, que não roube nem furte, que não violente o próximo, que tenha senso de justiça, que adore um ser superior, que tenha práticas religiosas (das mais elaboradas às primitivas e anímicas), faça o bem etc.

A partir da consciência dessa Lei Moral, o homem deduziu, pela razão ? e pelo impulso do seu coração desejoso de Deus ?, que deveria encontrar-se com seu Criador. Para tanto, notou que seu afastamento da divindade devia-se a uma falta que deveria ser paga e satisfeita. Todo ato pecaminoso, diz a razão à luz da lei natural, necessita de algo que o extirpe: um sacrifício. É por isso que, em quase todas as religiões, vemos a noção de sacrifícios aos deuses. Inclinado que estava o coração do homem à Lei Moral, conhecia ele a exigência da mesma em relação ao relacionamento com suas deidades. Vemos nos filmes, nos livros e nas aulas de História no colégio e na faculdade, que essas religiões sempre sacrificavam aos seus deuses. Esses sacrifícios eram de animais e até de seres humanos, porque a mente dessas pessoas lhes dizia que algo deveria ser feito para purificá-los de seus erros e aplacar a ira dos espíritos.

Se essa norma universal pertence somente à Moral, nos povos da terra, foi tornada positiva nos vários ordenamentos jurídicos existentes ao redor do mundo. Tanto é que as legislações conceberam como Direito a proibição de várias daquelas coisas já condenadas pela Ética. Em um povo, entretanto, essa positivação (codificação, tornar algo como pertencente ao Direito, ao conjunto de normas jurídicas de um povo) foi feita pelo próprio Deus, e de maneira completa. Em Moisés, líder dos descendentes de Abraão cativos no Egito, Deus apresentou a Lei Moral em forma de dez artigos, que conhecemos como decálogo. Ao longo dos primeiros livros da Bíblia, encontramos a descrição desses mandamentos, bem como de outros dispositivos jurídicos, oriundos também da Lei Moral natural, alguns dos quais meros instrumentos interpretativos do resumo que é o decálogo.

Todos os povos, culturas e religiões sacrificavam aos deuses, buscando reatar o relacionamento com eles, e com o fim de expiar suas faltas, agradecer as bênçãos, pedir graças e adorar aqueles que consideravam seres superiores. A intenção desses homens era a mais correta possível, eis que fruto da Lei Moral inscrita em seus corações. Também, em parte, a forma era corretíssima, pois concluíram, pela razão, que o reatar do relacionamento com o Criador se daria através do sacrifício. Ocorre, contudo, que o destinatário do sacrifício dava ao culto um caráter equívoco. Não era a Deus que sacrificavam, mas às suas noções errôneas de divindade. Como diz São Tomás, citando o livro dos Salmos, "todos os deuses dos pagãos são demônios."

Oferecer um sacrifício, concluímos, é algo próprio da natureza humana, em vista da Lei Moral e do desejo de Deus inscrito no coração do homem. Contudo, Deus mostrou, no Antigo Testamento, como Ele queria que fosse celebrado tal sacrifício.

Deus revelou, pois aos hebreus, o Povo Eleito, como deveria ser adorado em vista da vinda do Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Introdução à pedagogia divina e à alegoria vétero-testamentária: tipos, sinais, símbolos e figuras

Durante da História da Salvação, que antecedeu a vinda de Cristo, o Senhor Deus foi se revelando aos poucos, como que preparando seu povo para reconhecer seu Filho quando Ele viesse. Mediante símbolos e sinais que deveriam apontar para uma realidade perfeita em Jesus, quando Ele viesse à terra morrer pelos nossos pecados, Deus foi preparando o Povo de Israel.

Usando de uma pedagogia, Deus vai mostrando aos hebreus que realmente são necessários sacrifícios para que o relacionamento com Ele, afetado desde o pecado original, seja purificado, de tal forma que os pecados sejam apagados.

No Antigo Testamento, cremos que o que está descrito é histórico, realmente aconteceu. Entretanto, não é só esse sentido literal ? ainda que verdadeiro ? que nos interessa. Deus, que é o Autor da Sagrada Escritura, nos presenteia, pelo Espírito Santo, com a graça de entendermos a Bíblia conforme seus vários sentidos, todos complementares e submetidos ao juízo infalível da Santa Igreja fundada por Nosso Senhor. "Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido espiritual, sendo este último subdividido em alegórico, moral e anagógico. A concordância profunda entre os quatro sentidos garante toda a sua riqueza à leitura viva da Escritura na Igreja." (Cat. 115)

Os acontecimentos históricos, descritos no Antigo Testamento, são, para os cristãos, como que sinais que apontam para o Novo. Assim, a passagem do Mar Vermelho a pé enxuto pelos hebreus, na fuga do Egito, é algo que realmente aconteceu. Mas, seu sentido não se esgota no histórico, em que podemos perceber o poder de Deus ao realizar tamanho milagre, bem como Sua disposição em fazer de tudo para preservar Seu Povo Eleito. Para nós, tudo isso é importante, mas encontramos, também, um sinal da vitória de Cristo sobre a morte, e um símbolo do Batismo. São Paulo mesmo já interpretava assim: "todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar." (1Co 10,2)

Dessa maneira, o sacrifício, como ordenado por Deus a Moisés e ao Povo de Israel, é como um símbolo, uma preparação de um sacrifício mais excelente que estava por vir. A lei é apenas "a sombra dos bens futuros." (Hb 10,1) E mais: "o culto que estes celebram é, aliás, apenas a imagem, sombra das realidades celestiais." (Hb 8,5)

A idéia de sacrifício no Antigo Testamento: Abel, Noé, Melquisedeque, Abraão, Isaac e Jacó

O ânimo de sacrificar a Deus, para obter o perdão dos pecados e a remissão dos efeitos da queda original, permeia todo o Antigo Testamento, mesmo antes da Aliança com Moisés no Sinai, após a libertação do Egito rumo à Terra Prometida. Como dissemos, Caim e Abel preocupavam-se com isso, embora o primeiro tenha sacrificado de forma indigna (podemos perceber, desde já uma certa forma ritual que agrada a Deus, por ser de Seu desejo, e outra que o desagrada). "Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício nem superior ao de Caim, e merecer ser chamado justo, porque Deus aceitou as suas ofertas. Graças a ela é que, apesar de sua morte, ele ainda fala." (Hb 11,4) Esse "ainda fala" refere-se não só ao seu covarde assassinato por seu irmão Caim, porém, num sentido espiritual, também ao testemunho de sua fé e de seu sacrifício, modelo para todos os crentes.

Esse testemunho propagou-se por sua descendência, de quem sairia Abraão e seu filho, Isaac, sinal da promessa cumprida. Após o dilúvio, Noé, como forma de agradecer a Deus pela sua sobrevivência na arca, como também para buscar o perdão dos pecados, celebrou um sacrifício. "E Noé levantou um altar ao Senhor: tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os em holocausto ao Senhor sobre o altar. O Senhor respirou um agradável odor, e disse em Seu coração: ?Doravante, não mais amaldiçoarei a terra por causa do homem ? porque os pensamentos do seu coração são maus desde a sua juventude ?, e não ferirei mais todos os seres vivos como o fiz.?" (Gn 8,20-21) Em virtude do sacrifício oferecido por Noé, a ira divina foi aplacada, como pede a Lei Moral natural, e o benefício propiciatório das ofertas sacrificadas foi alcançado: o perdão e a misericórdia.

"Voltando Abrão da derrota de Codorlaomor e seus reis aliados, o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro no vale de Savé, que é o vale do rei. Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho, e abençoou Abrão, dizendo: ?Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que criou o céu e a terra! Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas mãos!? E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo." (Gn 14,17-19)

Melquisedeque, personagem misterioso, cuja história não é conhecida, é uma das primeiras figuras ou símbolos do Cristo que há de vir. Ele é o rei de Salém, primeiro núcleo da futura Jerusalém, como Cristo é o Rei dos Judeus, o Rei de Israel, que instalará Sua capital na Jerusalém Celeste (cf. Ap 21). Trazendo pão e vinho, simboliza Jesus que, por esses elementos, perpetuará a Eucaristia. Sacerdote que era, Melquisedeque, não era da linhagem do Povo Eleito, o que aponta para a Lei Moral que não se limitava aos descendentes de Abraão. Mais tarde, o salmista irá dizer, profeticamente, do Cristo: "Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque." (Sl 109,4) O sacerdote, como veremos, é figura essencial em um sacrifício, que não se faz sem ele, sem altar e sem vítima.

Após o encontro com Melquisedeque, Abraão, na época chamado simplesmente Abrão, permaneceu firme em seu chamado por parte de Deus. Nele foram depositadas as promessas de que seria o patriarca de um grande povo, de onde sairia o Messias, o Salvador. Sendo sua mulher, Sara, idosa e estéril, só um milagre poderia fazer tal promessa ser cumprida. E foi o que aconteceu. A fidelidade de Deus, que não se deixa vencer em generosidade, permitiu-lhe contemplar as Suas maravilhas. "O Senhor visitou Sara, como Ele tinha dito, e cumpriu em seu favor o que tinha prometido. Sara concebeu e, apesar de sua velhice, deu à luz um filho a Abraão, no tempo fixado por Deus. Abraão pôs o nome de Isaac ao filho que lhe nascera de Sara." (Gn 21,1-3)

Tempos depois, o mesmo Deus que tinha lhe dado Isaac, pede a Abraão que o sacrifique em Sua honra. Na verdade, trata-se de uma prova, a qual Abraão passou. Amando mais a Deus que qualquer outra coisa, estava pronto a sacrificar seu filho para a remissão dos pecados. Por conhecer suas disposições, o Senhor deu-se por satisfeito e, no altar do Monte Moriá, mandou um anjo seu interromper a oferta que Abraão fazia de Isaac, indicando-lhe, outrossim, um cordeiro para o sacrifício. "Abraão, levantando os olhos, viu atrás dele um cordeiro preso pelos chifres entre os espinhos; e, tomando-o, ofereceu-o em holocausto em lugar de seu filho." (Gn 22,13) Estamos diante de um outro símbolo messiânico, no qual um cordeiro é sacrificado no lugar de outros. O cordeiro substituiu Isaac, como se o próprio fosse sacrificado, e não o animal.

O livro do Gênese continua a contar a História da Salvação, e seus personagens, inclusive Isaac e seu filho Jacó, mais tarde chamado Israel, oferecem, certamente, sacrifícios a Deus. A esses três últimos, Abraão, Isaac e Jacó, tece o Sirácida o seguinte elogio: "Abraão é o pai ilustre de uma infinidade de povos. Ninguém lhe foi igual em glória: guardou a lei do Altíssimo, e fez aliança com Ele. O Senhor marcou essa aliança em sua carne; na provação, mostrou-se fiel. Por isso jurou Deus que o haveria de glorificar na sua raça, e prometeu que ele cresceria como o pó da terra. Prometeu-lhe que exaltaria sua raça como as estrelas, e que seu quinhão de herança se estenderia de um mar a outro: desde o rio até as extremidades da terra. Ele fez o mesmo com Isaac, por causa de seu pai, Abraão. O Senhor deu-lhe a bênção de todas as nações, e confirmou sua aliança sobre a cabeça de Jacó. Distingui-o com suas bênçãos, deu-lhe a herança, e repartiu-a entre as doze tribos. Conservou-lhe homens cheios de misericórdia, que encontraram graça aos olhos de toda a carne. (Eclo 44,20-27)

"Os patriarcas e os profetas, bem como outras personalidades do Antigo Testamento, foram e serão sempre venerados como santos em todas as tradições litúrgicas da Igreja." (Cat. 61)

A revelação de Deus na Aliança com Moisés: o culto levítico

Presente em todos os povos, como vimos, a noção de sacrifício foi aperfeiçoada pelo povo de onde sairia o Messias. Apesar de alguns serem verdadeiros holocaustos (os realizados pelos legítimos adoradores do Deus único), Deus só foi revelar o ritual com o qual queria ser adorado mediante os sacrifícios, quando da libertação do Povo Eleito da terra do Egito. Isso pela vontade de Deus em estabelecer uma Revelação de caráter progressivo, para que o homem fosse entendendo os Seus desígnios em formar um povo santo, à Sua imagem e semelhança. Respeitando a própria limitação do homem, Deus usou de acontecimentos históricos, mandamentos, ordens e rituais, para apontar ao Messias, que viria quando chegasse a plenitude dos tempos.

De tal modo aconteceu, que Moisés, o legislador de Israel e guia do Povo Eleito em sua fuga e peregrinação pelo deserto rumo a Canaã, estabeleceu, por ter ouvido da boca do próprio Deus, as leis específicas quanto ao sacrifício. As encontramos, principalmente, no livro do Levítico.

Todo sacrifício requer um sacerdote, um altar e uma vítima. De todo o Israel, somente uma tribo, a de Levi, foi escolhida para, de seus membros, saírem os que ocupariam as funções afeitas ao sacerdócio. Os levitas eram os responsáveis pelo culto do Deus de Israel. Alguns desses levitas, quando descendentes do sacerdote Arão (irmão de Moisés), formariam a classe sacerdotal, que ofereceria diretamente o sacrifício.

O altar era, enquanto não havia o Templo, na Tenda da Reunião, no lugar chamado de Santo dos Santos, onde ficava a Arca da Aliança, contendo os Dez Mandamentos. Após a construção do Templo por Salomão, em Jerusalém, lá foi edificado o altar onde os sacerdotes, levitas descendentes de Arão, ofereceriam como sacrifício pelos pecados dos israelitas, vítimas tais como diversos animais, entre os quais, por excelência, figurava o cordeiro. Esse sacrifício era uma figura, um sinal, um símbolo do verdadeiro e único sacrifício que viria: o de Cristo.

Ecce Agnus Dei, qui tollis peccata mundi

Diz a Bíblia: "No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: ?Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.?" (Jo 1,29)

De fato, no Novo Testamento, por sua vez, o sacerdote era o próprio Cristo, Deus e Homem ao mesmo tempo, que ofereceu um sacrifício perfeito; a vítima também foi Jesus Cristo, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; o altar do novo sacrifício já não ficava no Templo de Jerusalém, mas era a Cruz do Calvário. Lá, Cristo ofereceu um sacrifício perfeito para, por sua morte, conquistar-nos novamente a graça de Deus e dar a vida eterna, a salvação nos céus e o perdão de todos os nossos pecados, reconciliando-se com o Criador, ao qual tínhamos traído em Adão e Eva. "Nesse Filho, pelo Seu Sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da Sua graça." (Ef 1,7)

Se, por nossos primeiros pais, encontramos a desgraça, a morte eterna, o sofrimento, a separação de Deus e a inclinação ao mal (concupiscência), por Cristo, nos tornamos salvos. "Como efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus, e são justificados gratuitamente por Sua graça; tal é a obra da Redenção, realizada em Jesus Cristo. Deus O destinou para ser, pelo Seu Sangue, vítima de propiciação mediante a fé." (Rm 3,23-25)

Jesus, o Messias prometido e preparado no seio do Povo de Israel, viria, essencialmente, para morrer pelos nossos pecados. Na Cruz, se ofereceu por todos nós, sendo que éramos injustos e pecadores. Não merecíamos essa salvação, mas Deus enviou a Cristo por amor e misericórdia. "Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo a seu tempo morreu pelos ímpios. Em rigor, a gente aceitaria morrer por um justo, por um homem de bem quiçá se consentiria em morrer. Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós (...) Quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho." (Rm 5,6-8.10a) "Porque aprouve a Deus fazer habitar nele toda a plenitude, e por Seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio Sangue na Cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus." (Cl 1,19-20)

Em Jesus Cristo, temos a paz com Deus, e voltamos ao estado em que vivíamos antes do pecado original, eis que ele está definitivamente pago. "Por este motivo, o Pai Celestial, o Pai de Misericórdia e Deus Todo Poderoso e Todo Consolo, enviou aos homens, quando chegou aquela ditosa plenitude do tempo, Jesus Cristo, Seu Filho Manifestado e Prometido a muitos santos Padres antes da lei, e em seu tempo, para que redimisse os Judeus que viviam na Lei, e aos gentios que não aspiravam a santidade a conseguissem e para que todos recebessem a adoção de filhos. A seu filho, Deus nomeou como Reconciliador de nossos pecados, mediante a fé em sua paixão, e não somente de nossos pecados, mas também aqueles de todos os homens." (Concílio Ecumênico de Trento, Decreto sobre a Justificação). Resta-nos, pois, apropriarmo-nos dessa salvação, conforme o ensinamento da Santa Igreja.

O sacrifício vicário de Cristo

No culto levítico, estabelecido por Deus, víamos como que figuras que apontavam para Cristo. O Sumo-sacerdote da Antiga Aliança entrava no Santo dos Santos, para oferecer o sacrifício do cordeiro sobre o altar de Jerusalém. Jesus é o nosso Sumo-sacerdote (cf. Hb 4,14), aquele de quem os antigos eram apenas símbolos, e entra não num santuário terrestre, mas na própria glória de Deus, diante de Sua Divina Majestade (cf. Hb 8,1-2;9,11).

O sacrifício de Cristo, vítima e sacerdote, cordeiro e oferecedor, holocausto do qual todos os outros eram sinais que o preparavam, é suficiente para a remissão dos pecados. "Pois se o sangue de carneiros e de touros e a cinza de uma vaca, com que se aspergem os impuros, santificam e purificam pelo menos os corpos, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu como vítima sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência das obras mortas para o serviço do Deus vivo? (...) Se os meros símbolos das realidades celestes exigiam uma tal purificação, necessário se tornava que as realidades mesmo fossem purificadas por sacrifícios ainda superiores. Eis porque Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas uma figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus." (Hb 9,13-14.23-24)

Nos antigos sacrifícios buscava-se a reconciliação do homem com Deus. Quando oferecidos ao divindades pagãs, não tinha valor propiciatório, porém ainda assim demonstrava-se que o desejo de buscar o absoluto estava no coração do homem, e este estava disposto a cumprir as exigências da Lei Moral natural, que ordenava que fossem celebrados sacrifícios. Todavia, oferecidos ao Deus Vivo, eram um sinal do legítimo sacrifício que viria, prova de amor do Criador que não hesita em matar Seu Filho em nosso lugar. Cristo é aquele cordeiro encontrado por Abraão entre os espinhos, e que é oferecido em lugar de Isaac. O Senhor Jesus se ofereceu em nosso lugar. Da mesma forma que Ele é o Cordeiro, somos como que à imagem de Isaac, substituídos pelo Filho de Deus. "Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagados por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva estava sobre ele; fomos curados graças às suas chagas." (Is 53,4-5)

O sacrifício de Jesus Cristo foi único e suficiente. Não como os feitos pelos sacerdotes do Antigo Testamento, que eram carentes de renovação periódica. "Cristo ofereceu pelos pecados um único sacrifício (...). Por uma só oblação Ele realizou a perfeição definitiva daqueles que recebem a santificação." (Hb 10,12a-14) Já não é mais necessário novos sacrifícios. Jesus é "sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque" (Hb 5,6), e, portanto, não morre mais. Morreu uma só vez, e, sendo esta suficiente, ressuscitou ao terceiro dia, e hoje vive no céu, intercedendo por nós diante do Trono, e constantemente enviando o Seu Santo Espírito sobre nós, Ele que procede eternamente do Pai.

Antecipação do sacrifício: a última ceia

Na véspera da sexta-feira, em que iria se oferecer por nós na Cruz, Nosso Senhor, manifestou o desejo de comemorar a Páscoa, segundo as prescrições da religião judaica, com seus apóstolos.

"Raiou o dia dos pães sem fermento, em que se devia imolar a Páscoa. Jesus enviou Pedro e João, dizendo: ?Ide e preparai-nos a ceia da Páscoa.? Perguntaram-lhe eles: ?Onde queres que a preparemos?? Ele respondeu: ?Ao entrardes na cidade, encontrareis um homem carregando uma bilha de água; segui-o até a casa em que ele entrar, e direis ao dono da casa: O Mestre pergunta-te: Onde está a sala em que comerei a Páscoa com os meus discípulos? Ele vos mostrará no andar superior uma grande sala mobiliada, e ali fazei os preparativos.? Foram, pois, e acharam tudo como Jesus lhes dissera; e prepararam a Páscoa.

Chegada que foi a hora, Jesus pôs-se à mesa, e com ele os apóstolos. Disse-lhes: ?Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de morrer. Pois vos digo: não tornarei a comê-la, até que ela se cumpra no Reino de Deus.? Pegando o cálice, deu graças e disse: ?Tomai esse cálice e distribuí-o entre vós. Pois vos digo: já não tornarei a beber do fruto da videira até que venha o Reino de Deus.? Tomou em seguida o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: ?Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.? Do mesmo modo tomou também o cálice, depois de cear, dizendo: ?Este cálice é a Nova Aliança em meu sangue, que é derramado por vós.?" (Lc 22,7-20)

Houve uma época, já vimos, que o Povo Eleito esteve cativo no Egito. Por seu amor para com os hebreus, Deus suscitou um líder, Moisés, que deveria libertá-los e os conduzir até a Terra Prometida.

Conta a Sagrada Escritura, a Bíblia, que Deus falou a esse Moisés, dizendo que o povo hebreu deveria preparar, antes de sua fuga do Egito, preparar uma ceia, nas casas das famílias, em que seria sacrificado um cordeiro, macho e sem defeito. O sangue desse animal deveria ser aspergido às portas das casas dos filhos de Israel. Após, com os rins cingidos, com sandálias aos pés e com o cajado na mão, deveriam comer o tal cordeiro, apressadamente, porque a hora de fugir já chegava.

O sangue do cordeiro que estava sobre as portas das casas dos hebreus deveria indicar que esta casa estava purificada, e não seria atingida com a peste mandada por Deus contra os egípcios. Na verdade, desde já Deus queria dizer que enviaria Jesus Cristo para morrer em nosso lugar, homem, e sem defeito algum, como o cordeiro antigo. Jesus é o cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. Pelo sangue de Cristo sobre nós, também somos purificados e protegidos, e, não sendo atingidos pela morte eterna e pela infelicidade aqui na terra, somos aceitos por Deus como filhos e encontramos tanto uma razão para viver como a salvação de nossas almas.

Esse ritual deveria ser repetido todos os anos, em comemoração à prodigiosa fuga da terra dos egípcios. Era a festa da Páscoa, o Pessach, a Passagem.

Jesus queria comemorar essa Páscoa. Para isso, ordenou que Seus discípulos organizassem a ceia, como de costume. Relembrando a libertação do Povo Eleito, Cristo, todavia, antecipou a verdadeira libertação, da qual aquela era apenas um símbolo. Em verdade, na Cruz, Jesus libertaria toda a humanidade, reunindo, pelo Espírito Santo, um novo Israel, formado por todos aqueles que aceitassem a Sua salvação, garantida aos pés do madeiro.

A última ceia, realizada na Quinta-feira Santa, forma um todo ininterrupto com a Paixão e com o Domingo da Ressurreição ? a nossa Páscoa. Na sexta, Jesus iria morrer. No dia anterior, Ele antecipou a vivência desse sacrifício, ao instituir o Sacramento da Nova Aliança, a Eucaristia. Após a ceia, é verdade, Jesus se dirige ao Monte das Oliveiras para orar, e lá enfrenta sua hora de grande angústia (cf. Lc 22,29-46), numa clara demonstração de que o seu sacrifício já começara.

"Ao celebrar a última ceia com Seus apóstolos durante a refeição pascal, Jesus deu o seu sentido definitivo à Páscoa judaica. Com efeito, a passagem de Jesus a Seu Pai pela Sua morte e Sua Ressurreição, a Páscoa nova, é antecipada na ceia..." (Cat. 1340)

Esse sacrifício, antecipado, na última ceia, e oferecido quando da morte de Cristo na Cruz do Calvário, é apresentado, na Quinta-feira Santa, em uma banquete, no qual os apóstolos têm a possibilidade de comungar do verdadeiro Corpo e Sangue do Senhor. As palavras de Jesus, na sinagoga de Cafarnaum (cf. Jo 6,41-58), são agora plenamente entendidas, pois a carne de Cristo pode ser comida e o Seu Preciosíssimo Sangue pode ser bebido. Não somente o sacrifício é antecipado, mas uma real possibilidade de união com Deus é dada, tal qual a Cruz traçará, entre o céu e a terra, o sinal permanente da Aliança do Senhor com os homens, de modo que ela é a ponte que atravessa o penhasco aberto pelo pecado de nossos primeiros pais.

A Missa, enquanto Cena Domini

Na última ceia, Cristo estava instituindo um Sacramento, isto é, um sinal visível de uma graça invisível. Ele mesmo ordenou que se fizesse tudo aquilo em Sua memória.

É o banquete pascal, no qual celebramos a vitória de Cristo sobre o pecado e sobre a morte. Assim, temos em cada Santa Missa, a presença de Cristo, presidindo através do celebrante, uma verdadeira ceia, a mesma que Ele mandou que os apóstolos preparassem antes de oferecer o Seu sacrifício.

A Missa é, pois, a Ceia do Senhor. Por Sua morte na Cruz, Jesus Cristo abriu-nos as portas do Paraíso, dando-nos a possibilidade de entrar, novamente, em união com Deus, restabelecendo o plano original do Criador. Nessa Ceia que é a Missa, por participarmos de maneira espiritual do Corpo de Cristo presente (orando, louvando, pedindo perdão, acompanhando atentamente os ritos litúrgicos), e, principalmente, pela comunhão sacramental, recebendo a hóstia consagrada ? que é verdadeira carne do Senhor.

Embora pareça contraditório, a morte de Cristo, mesmo que devamos nos lamentar pela oferta de uma Vítima tão santa, e chorar pela injustiça causada por nossos delitos, ela é motivo de celebração. Foi por Sua morte que Cristo resgatou-nos da morte. Morreu a nossa morte para que vivamos a Sua vida. Por isso a idéia de banquete, de refeição. Comemoramos a morte de Cristo e a Sua Ressurreição, intimamente ligadas, comendo do mais precioso alimento, aquele que foi chamado de Pão dos Anjos ("Ecce Panis Angelorum").

O único e suficiente sacrifício de Cristo na Cruz é tornado novamente presente sobre o altar da igreja, em cada Missa validamente celebrada

Dissemos que Nosso Senhor Jesus Cristo ofereceu um único e suficiente sacrifício, pelo qual fomos libertos do domínio da morte, remidos de nossos pecados e transladados para uma nova economia, onde Deus e o homem celebram uma Aliança. A Cruz é o sinal dessa Aliança. Nela, verdadeiro altar, Cristo, vítima e sacerdote, ofereceu-se, uma única vez, para recuperar para a nós a amizade divina.

Esse, inclusive, é o argumento dos protestantes, ao negarem o caráter sacrificial da Santa Missa. Não entendem eles o que estamos a explicitar nesse breve tratado. Dizem que, se Jesus ofereceu um único sacrifício, não é preciso que se ofereça novamente em cada Missa. Ora, com isso concordamos plenamente!

A Missa é sacrifício. Entretanto, não é um novo sacrifício. O que Jesus ofereceu, pregado no Calvário, foi suficiente para nos merecer, de Deus, a graça que nos é imputada pelo Espírito Santo através da fé; e, porque suficiente, único.

Por causa disso, em cada Santa Missa que é celebrada, não estamos oferecendo Cristo de novo. Tampouco, segundo a ótica e a teologia protestantes, estamos diante apenas de uma Ceia do Senhor (esse é apenas um dos aspectos da Missa). A Missa é o mesmo, único, eterno e suficiente sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecido por Ele mesmo na Cruz, que tornou o altar, onde, ao mesmo tempo vítima e sacerdote, morreu por nossos pecados, dando-nos a libertação.

A ordem de Cristo aos apóstolos na última ceia, vimos, foi de que eles fizessem isso ? a Missa ? em sua memória. O termo utilizado pelos evangelistas, e que traduzimos por "memória" é anamnese. Tal palavra não é uma simples memória (mnemone), mas um "recordar, tornar presente". Na Missa, fazemos memória do sacrifício de Cristo, tornando-o presente. Se a última ceia, foi uma antecipação do sacrifício, a Missa é a sua perpetuação.

"O sacrifício da Missa é o verdadeiro e o próprio sacrifício da Nova Lei, no qual Cristo é oferecido sob as espécies de pão e vinho pelo sacerdote sobre o altar, em memória e renovação do sacrifício do Calvário." (DEL GRECO, Pe. Teodoro da Torre. "Teologia Moral", Edições Paulinas, São Paulo, 1959; p. 536)

Não só uma ceia, mas um autêntico sacrifício. "A Missa é ao mesmo tempo e inseparavelmente o memorial sacrificial no qual se perpetua o sacrifício da Cruz, e o banquete sagrado da comunhão ao Corpo e ao Sangue do Senhor." (Cat. 1382)

Quantas vezes, não nos perguntamos o que faríamos se pudéssemos estar aos pés de Cristo na Cruz? Questionamos, tantas e tantas vezes, qual seria a nossa atitude, ao ver Deus morrer por nossas transgressões, e ser pisado e machucado, tal qual o cântico do Servo Sofredor (cf. Is 53). Ora, é exatamente isso, a Cruz, que acontece diante de nós, em cada Missa celebrada!! Não se trata de um símbolo, de um sinal, de uma representação do sacrifício, por mais que tudo isso seja piedoso e santo. Não! É o próprio sacrifício, tornado novamente presente. Se aquele foi oferecido de maneira cruenta, com derramamento de Sangue, sua renovação é feita de forma incruenta, eis que o Sangue nos é dado para que comunguemos dele e participemos, de forma efetiva das realidades celestes.

O altar da Missa é aquele onde o sacrifício é celebrado, e foi consagrado na igreja. Embora tenha a forma de mesa em lembrança à condição de Ceia do Senhor que é a Missa, trata-se de um verdadeiro altar, isto é, de um local onde é oferecido um sacrifício. O que foi a Cruz no Calvário, é o altar na Santa Missa.

O sacerdote é o indivíduo, do sexo masculino, instituído no Sacramento da Ordem, no grau de presbítero. Por esse Sacramento, ele se torna um sacerdote por participar da dignidade do único e eterno Sacerdote, Jesus Cristo. "O sacrifício redentor de Cristo é único, realizado uma vez por todas. Não obstante, tornou-se presente no sacrifício eucarístico da Igreja. O mesmo acontece com o único sacerdócio de Cristo: tornou-se presente pelo sacerdócio ministerial, sem diminuir em nada a unicidade do sacerdócio de Cristo." (Cat. 1545) E São Tomás de Aquino, o Doutor Angélico, nos ensina: "Por isso, somente Cristo é o verdadeiro sacerdote; os outros são seus ministros." (In Hebr. 7,4) Nesse raciocínio, por via de conseqüência, vemos que o sacerdote não é apenas o padre, mas o próprio Jesus Cristo, que age através de seu ministro, verdadeiro sacerdote porque o Sacramento da Ordem o faz íntimo participante dessa dignidade de Nosso Senhor. O padre, ou o bispo, agem, em virtude do caráter indelével impresso na alma pela Ordem, in persona Christi. Celebrar uma Missa não é tanto questão de autorização, mas de poder mesmo. Só alguém validamente elevado ao presbiterato poderá agir de tal maneira que seja sacerdote, em nome do Sumo-sacerdote, Jesus Cristo.

A vítima desse sacrifício da Missa, por ser esse holocausto o mesmo oferecido há dois mil anos e tornado presente ? eis que para Deus não há limites de espaço e tempo ?, é Jesus Cristo, sob as espécies e aparências de pão e vinho.

Finalidades do sacrifício

Todo sacrifício, seja ele legítimo (isto é, ordenado ao verdadeiro Deus: o da Antiga Aliança e o da Nova, inaugurada por Cristo e perpetuada na Missa) ou não (oferecido a falsas divindades), tem quatro finalidades básicas.

A primeira delas é a adoração. Num sacrifício, adoramos a Deus, reconhecendo-O como Senhor de tudo e Rei de nossas almas. Submissos que somos a Ele, reconhecemos Sua soberania sobre nós, oferecendo algo, como que O presenteando. Na Cruz, Cristo foi a oferta dada a Deus. A morte de Cristo, de um modo sobrenatural e misterioso, agradou a Deus, Seu Pai, e foi como que um presente a Ele (notemos que Deus não é um carrasco, mas Seu agrado pelo sacrifício de Seu Filho deve-se a que, por ele, o plano original é restaurado, e também porque a obediência de Cristo tornou possível que todos nós O obedeçamos). Na Missa, por sua vez, eis que é o mesmo sacrifício tornado presente, Cristo é ofertado ao Pai. Em nosso rito romano, podemos entender perfeitamente essa entrega de adoração, nas palavras do sacerdote: "Por Cristo, com Cristo, e em Cristo, a vós, Deus Pai Todo-Poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e a toda a glória, agora e para sempre." É por essa razão que somente o celebrante, o sacerdote, pode recitar essas palavras, a que os fiéis respondem com um solene "amém". Se o sacerdote o é pela íntima vinculação com o único, eterno e supremo sacerdócio de Jesus Cristo, através do Sacramento da Ordem, somente ele pode agir, in persona Christi, adorando a Deus da mesma forma com que Nosso Senhor O adorou por Sua morte. O padre, digamos assim, embora não seja teologicamente preciso, "faz as vezes de Cristo".

O segundo fim que quer em um sacrifício é a ação de graças a Deus por todas as graças e bênçãos recebidas. A entrega de Jesus foi, também, um agradecimento ao Pai, e isso é renovado na Santa Missa. Tanto esse caráter é essencial no sacrifício, sobretudo no verdadeiro e único sacrifício da Cruz e do altar, que a expressão "ação de graças" se diz, em grego, eucharistia.

Também o sacrifício deve ser impetratório, de súplica a Nosso Senhor por favores divinos, novas graças e bênçãos. Morrendo na Cruz, Jesus pediu ao Pai uma graça específica em favor daqueles que O estavam matando: "Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem" (Lc 23,34) A Missa, por ser o sacrifício de Cristo tornado presente, é a ocasião propícia para fazermos violência ao céu e clamarmos para que Deus nos seja solícito em atender nossas preces.

Por fim, o sacrifício tem um caráter propiciatório. No Antigo Testamento, se ofereciam cordeiros pelos pecados do povo. Na Nova Aliança, fundada por Cristo em Sua Santa Igreja Católica, Ele próprio foi oferecido, tal qual o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Esta Aliança é definitiva, e ela é que nos rege, de modo que na Santa Missa, sua perpetuação até que Nosso Senhor retorne, Cristo se oferece, não novamente, pois se trata do mesmo e único sacrifício, mas de uma nova maneira, incruenta, e sob a aparência de pão de vinho ? na verdade, Seu Corpo e Sangue verdadeiros. A propiciação na Missa revela-nos que é a ira de Deus sobre nós, injustos, maus e pecadores, que é aplacada, dando-nos a misericórdia do Senhor que enviou Seu Filho "para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16), e a conseqüente remissão dos pecados.

"A natureza sacrificial da Missa, que o Concílio de Trento solenemente afirmou (cf. Sessão XXII, 17 de setembro de 1562: DS 1738-1759), em concordância com a universal Tradição da Igreja, foi de novo proclamada pelo Concílio Vaticano II, que proferiu sobre a Missa estas significativas palavras: ?O nosso Salvador, na última ceia, instituiu o sacrifício eucarístico do Seu Corpo e Sangue para perpetuar o sacrifício da Cruz através dos séculos até a Sua volta, e para confiar à Igreja, Sua Esposa muito amada, o memorial de Sua morte e Ressurreição.? (Constituição "Sacrossanctum Concilium", 47) O que o Concílio ensinou com estas palavras encontra-se expresso nas fórmulas da Missa. Com efeito, a doutrina já expressa concisamente nesta frase do antigo Sacramentário, conhecido como Leoniano: ?Todas as vezes que se celebra a memória deste sacrifício, renova-se a obra da nossa redenção? (Missa Vespertina na Ceia do Senhor, Oração sobre as Oferendas), é desenvolvida clara a cuidadosamente nas Orações Eucarísticas; nestas preces, ao fazer a anamnese, dirigindo-se a Deus em nome de todo o povo, dá-lhe graças e oferece o sacrifício vivo e santo, ou seja, a oblação da Igreja e a vítima por cuja imolação Deus quis ser aplacado, e ora também para que o Corpo e Sangue de Cristo seja um sacrifício agradável ao Pai e salutar para o mundo. Assim, no novo Missal, a regra da oração da Igreja corresponde à regra perene da fé, que nos ensina a identidade, exceto quanto ao modo de oferecer, entre o sacrifício da Cruz e sua renovação sacramental na Missa, que o Cristo Senhor instituiu na última ceia e mandou os apóstolos fazerem em Sua memória. Por conseguinte, a Missa é simultaneamente sacrifício de louvor, de ação de graças, de propiciação e de satisfação." (Instrução Geral sobre o Missal Romano, Roma, 2000, Tradução portuguesa para o Brasil da separata da terceira edição típica preparada sob os cuidados da Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos)

A Missa é também Sacramento

"A Eucaristia é o Sacramento que sob a espécie de pão de vinho contém verdadeira, real e substancialmente o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, para alimento espiritual da alma." (DEL GRECO, Pe. Teodoro da Torre. "Teologia Moral", Edições Paulinas, São Paulo, 1959; p. 510)

Analisemos, essa afirmação do respeitado canonista.

A Eucaristia, isto é, a Santa Missa, é, primeiramente, um Sacramento. É, portanto, segundo a clássica fórmula de Teologia Dogmática, um sinal visível de uma graça invisível. Essa graça invisível é comunicada pelo Pai, em nome do Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, através da operação do Espírito Santo, a todos os fiéis que do Sacramento participam. Santifica-nos e dá-nos uma virtude própria de cada Sacramento, o que, no caso da Eucaristia, é alimentar-nos espiritualmente e fazer-nos um com o Cristo, atendendo à oração que Ele mesmo fez: "Não rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra hão de crer em mim. Para que todos sejam um, assim como Tu, Pai, estás em mim e eu em Ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que Tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um." (Jo 17,20-22) A graça própria desse Sacramento, portanto, é entrarmos em perfeita comunhão com Jesus e, por Ele, com a Santíssima Trindade, participando da vida divina, e, por isso mesmo, santificando-nos progressivamente, rumo à Pátria celeste que nos é destinada.

Tal Sacramento se apresenta sob as espécies de pão e vinho. A aparência da Eucaristia é a de pão e de vinho, embora, pelas palavras da consagração recitadas pelo sacerdote, que age na pessoa de Cristo, unido, como já se disse, ao único e eterno sacerdócio do Senhor Jesus, a substância mude para Corpo e Sangue. É necessário que entendamos os princípios filosóficos e teológicos, magistralmente codificados por São Tomás. Uma coisa é a substância, outra a aparência, a forma. Diferente é a essência do acidente. Na Santa Missa, a aparência continua sendo a de pão e de vinho, os elementos acidentais (gosto, resistência ao tato, forma) não mudam. Porém, a substância já não é mais a mesma, eis que a essência foi modificada de pão e vinho para Corpo e Sangue. Não um símbolo, não um sinal, não uma figura espiritual, mas a presença verdadeira, real e substancial de Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme as próprias palavras do Pe. Teodoro. Por isso, não ocorre uma transformação, isto é, uma mudança na forma, mas trata-se de uma transubstanciação, pois é a substância quem muda.

Como Sacramento que é a Santa Missa é celebrada somente por quem está de tal maneira unido a Cristo, que participe intimamente do Seu sacerdócio. Já dissemos que aqueles que se encontram nesse estado são os presbíteros e os bispos, em virtude do caráter indelével de associação ao ministério messiânico impresso em suas almas pelo Sacramento da Ordem. O sacerdote é quem pode oferecer a Missa, consagrando a Sagrada Eucaristia. Também é ele o ministro ? todo Sacramento deve ter um ministro ? da distribuição dessa Eucaristia na Missa e fora dela, em casos específicos. De maneira subsidiária, e somente em casos extremos e autorizados pelo Ordinário local ? em consonância com as normas emanadas da Santa Sé ? podem alguns leigos serem investidos de um verdadeiro mandato para exercerem as funções de Ministros Extraordinários da Comunhão Eucarística, para distribuir a Eucaristia naquelas situações. Convém observar atentamente as normas aludidas, para que não se incorra no abuso que vemos hoje na maioria de nossas paróquias.

Funções sagradas e rito na Missa

Tudo, na Missa, deve se ordenar para o essencial. Nada deve fugir a isso, sob pena de esquecermos que a Missa é um sacrifício.

Infelizmente, esse esquecimento toma conta da Igreja hodierna, culpa, também, dos abusos litúrgicos ocasionados pela desobediência das normas emanadas da Santa Sé.

A Missa, como cerne do culto católico, em função de ser o sacrifício, penhor de nossa salvação e abertura das portas do céu para nós, pela graça, deve comunicar aos fiéis, toda a riqueza da Tradição da Santa Igreja. A Liturgia da Missa se presta, também, ao ensino das verdades dogmáticas, cridas pela Igreja pela Revelação de Deus. "Pela Revelação divina, quis Deus manifestar-Se e comunicar-Se a Si mesmo e os decretos eternos de Sua vontade acerca da salvação dos homens, a saber, para fazer participar os bens divinos, que superam inteiramente a capacidade da mente humana." (Concílio Ecumênico Vaticano II, Constituição Dogmática "Dei Verbum" sobre a Revelação Divina)

Para que isso seja feito de forma eficaz, e a Missa possa passar aos homens de nosso tempo a verdadeira Tradição de modo que eles a compreendam, a Igreja se mantém sempre vigilante para restaurar e enriquecer as normas litúrgicas, ao passo que estabelece a ela própria a faculdade de assim fazê-lo, garantindo que não se coloque em risco o essencial.

A melhor forma de transmitir a Fé Católica, a Tradição e, principalmente, aquilo que é a Santa Missa, ou seja, seu caráter sacrificial tanto esquecido pela desobediência do princípio descrito no parágrafo anterior, é a fiel observação de certas normas, expressas nos documentos eclesiais e nas rubricas dos livros litúrgicos. No rito romano, os livros por excelência, onde se encontram os formulários da Missa e o modo de oferecê-la, são o Missal Romano e o Pontifical Romano, ambos restaurados e reformulados após o Concílio Vaticano II, para "exprimirem mais claramente as realidades sagradas que significam" (Constituição Apostólica de Sua Santidade, Paulo VI, "Missale Romanum", de 3 de abril de 1969)

O uso adequado dos paramentos, o correto oferecimento da Missa, e a obediência irrestrita às rubricas não devem ser causa para que pensemos estarmos atrelados a uma forma fria de religiosidade. Pelo contrário, essa fidelidade, por apontar para o sacrifício, a ele se ligar, e por melhor demonstrar ao povo esse caráter da Santa Missa ? eis a razão do seguimento de certas normas ? dá a legítima idéia de submissão, piedade e unção, além daquilo que é mais substancial: protege a Missa de falsos conceitos daquilo que ela não é, e inculca na mente dos católicos e dos não-católicos aquilo que ela é ? um verdadeiro e real sacrifício, o mesmo do Calvário, oferecido por Cristo para o perdão dos nossos pecados.

Bens que se adquire com a participação na Santa Missa

Por tornar presente o sacrifício de Cristo na Cruz, a participação na Santa Missa é essencial na vida do cristão. É pela morte de Jesus que temos uma vida cristã. Por ela, temos novo acesso a Deus. O sacrifício de Nosso Senhor e Sua gloriosa Ressurreição são a ponte que temos para chegar ao Pai e recuperar o estado perdido de justiça original. Sem o sacrifício de Cristo, não há salvação. Sem salvação, não há Igreja. Sem Igreja, não há vida cristã e tornam-se sem sentido e até inexistentes nossos esforços cotidianos por santificação.

No Domingo, dia do Senhor, em que relembramos a Sua Ressurreição, centro da nossa fé católica, estamos, pois obrigados a assistir Missa inteira. Essa obrigação deve ser observada, mesmo quando não temos a mínima vontade de ir à igreja. É pelo exercício constante que, com o tempo, ou mesmo instantaneamente, conforme o desígnio de Deus ? que continua o mesmo: formar um povo à Sua imagem e semelhança, crescendo até o caráter de Cristo ?, que passamos a dar a devida importância ao ritual de sacrifício que diante de nossos olhos se desenvolve.

Pela participação na Missa e, se possível, comungando do Corpo e Sangue do Senhor ? se estivermos em estado de graça, isto é, sem pecados mortais ?, santificamo-nos, e mesmo podemos aderir mais firmemente ao altos propósitos ditados por Deus à Sua Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica. Venerando o sacrifício perpétuo (cf. Dn 12,11) da Santa Missa, Ceia do Senhor e memória viva, tornando presente a Cruz e a Ressurreição, embora de um modo diferente de ofertar, somos, inclusive, colocados diante da grande resposta que Deus quer de nós, à semelhança de Samuel: "Falai (Senhor)... (...); vosso servo escuta!" (1Sm 3,10)
 Rafael Vitola Brodbeck 
site:veritatis.com

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