O tempo do Quaresma nos convida a refletir no silêncio de nossa consciência. As leituras da Palavra de Deus nesses dias nos predispõem a ouvir a fim de conferir nosso agir. A novidade é a libertação. Deus quer a nossa libertação de todo o mal, no plano do espírito.
Começamos com um oráculo de libertação anunciado pelo profeta Isaias 43,19-21, ao povo de Israel, no tempo em que esteve deportado na Babilônia. Deus já o tinha libertado uma vez quando fora escravo no Egito, e logo tornará a libertá-lo. Por isso Israel não pode fixar-se nos males do momento, mas olhar com confiança o futuro. O seu retorno à liberdade será cumprido na alegria, como o deserto que floresce.
São Paulo fala da importância de novidade trazida por Cristo, que morreu e ressuscitou para que nós também ressuscitemos com nele para uma vida nova. O apóstolo lembra uma corrida para vencer na vida cristã, como no esporte, a fim de conquistar o prêmio que Deus reserva àqueles que o tenham escutado.
A ação libertadora de Deus para o povo eleito foi militar, política, social, , naqueles séculos longínquos da escravidão do Egito e da deportação na Babilônia, mas sempre foi também libertação de caráter espiritual e moral. De fato, o Senhor pedia a seu povo a fidelidade à aliança estreita com ele, a coerência de uma vida reta como sinal de amor a Deus que salva. Libertação que comportava a vitória sobre o pecado, existência polida e digna sob a luz do sol, vida que fosse em si mesma agradecimento e louvor a Deus.
Tudo isso ficou mais explícito em Jesus Cristo. Ele, homem novo, introduziu plenamente no mundo a novidade de vida; libertação que tem raízes profundas no coração humano, que comporta a vitória sobre o pecado e a expansão da graça. O evangelho de hoje de João 8,1-11, nos apresenta Jesus libertador do pecado. Jesus que se põe da parte dos pecadores, e nos mostra toda a sua alegria em perdoar e reabrir caminhos novos.
O evangelho de domingo passado nos ensinava, com a parábola do filho pródigo, que Deus é misericordioso. O evangelho de hoje, com o episódio da mulher adúltera, nos apresenta a aplicação do princípio geral ao caso concreto, à vida.
A pobre pecadora, colhida em flagrante reato, segundo a lei antiga devia ser condenada à morte cruel: a lapidação. Os escribas e fariseus chegaram com pedras nas mãos. Disseram: “Moisés na lei nos ordenou lapidar mulheres como esta”. Na expressão “mulheres como esta” se vê já o desprezo de quem se julga justo, e por isso se atribui o direito de condenar os outros.
Na realidade os escribas e fariseus trazendo a pecadora a Jesus tinham uma segunda finalidade: queriam preparar uma cilada, desacretizá-lo diante da gente, colocá-lo em dificuldades. Propõem-lhe um dilema e queriam que Jesus se pronunciasse. Acrescentam por isso: “Tu, o que dizes?”. Jesus podia aprovar ou desaprovar. Qualquer resposta que pronunciasse o faria desacreditado.
Se dissesse: é justo, é preciso lapidar esta desgraçada, não estaria da parte dos pecadores, a gente não teria mais confiança e simpatia para com ele, talvez o teria abandonado.
Se dissesse: é preciso deixar livre esta infeliz, teria exortado abertamente a violar a lei de Moisés! De todo modo, teriam encontrado um pretexto para criticá-lo e desacreditar Jesus.
Jesus se coloca fora do dilema proposto pelos escribas. Já o profeta Ezequiel (33,11) tinha dito que Deus não quer a morte do pecador, mas “que se converta e viva”. Jesus mesmo fora explícito: “Não vim para julgar, mas para salvar” (João 3,17).
Desta vez, Jesus se inclinou em terra, pôs-se a escrever com o dedo na areia. Uma pausa de reflexão. No auge da tensão, a resposta veio, cheia de piedade, de sabedoria divina. Disse: “Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra contra ela”. Depois voltou a escrever. O único sem pecado era ele. Um a um deixou cair as pedras e se foi, a começar pelos mais velhos até os jovens. Jesus pergunta: “Mulher, onde estão os que te acusavam? Nenhum te condenou?” “Nenhum, Senhor”. “Nem eu te condeno. Vá, e de agora em diante não peques mais”.
Fonte: CNBB
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