Confesso que me incomoda bastante começar ouvir no nosso meio cristão e até receber cartões virtuais me desejando “um verdadeiro espírito do Natal”. Irmãos e irmãs, não sejamos ignorantes: O verdadeiro espírito do Natal é o Espírito Santo de Deus!
Quantas vezes oramos na liturgia com o profeta Isaías?
“Nascerá uma haste do tronco de Jessé e, a partir da raiz, surgirá o rebento de uma flor; sobre ele repousará o espírito do Senhor: espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus; no temor do Senhor, encontra ele seu prazer” (11, 1-3).
O Espírito do Natal é o mesmo Espírito que recebemos no Santo Batismo. É sempre o Espírito a estar presente nas horas em que cristãos precisam nascer: “O vento sopra onde quer e ouves sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito” (Jo 3, 8).
Natal existe também só por graça e obra do Espírito. Maria, lembra Santo Ambrósio, recebe o Espírito Santo antes de conceber; Isabel depois. Devemos ser gratos ao Espírito Santo pelo nascimento de Jesus! Por isto, Isabel diz a Maria: “Feliz és tu que acreditaste” (Lc 1,45). De fato, o Espírito Santo é Aquele que ao longo da história humana, e na vida de cada pessoa, “realiza maravilhas” (cf. Lc 1, 49).
No seu sermão de Natal, o grande Papa São Leão Magno (séc.V), pregava: “Toma consciência ó cristão da tua dignidade. E já que participas da natureza divina, não voltes aos erros de antes por um comportamento indigno da tua condição (…) Pelo sacramento do batismo te tornaste templo do Espírito Santo. Não expulse com más ações tão grande hóspede”. Vejam, porém, como também devemos ao Espírito a graça da santificação de nossas almas mediante a participação da natureza divina. Devemos a Ele a habitação de Deus em nós! É Ele que nos guarda na presença de Deus!
Não poderíamos retornar a Deus sem o Espírito! Por isto esta obra de retorno a Deus, que na Nova e Eterna Aliança começa exatamente na escolha da Virgem Maria e na Encarnação do Filho de Deus não poderiam ser desprovidas da Presença Poderosa e Atuante do Espírito! Glória ao Espírito Santo de Deus! Santo Irineu, já no século II, a este respeito afirmava: “Com efeito, o Espírito prepara o homem para o Filho de Deus, o Filho conduz o homem para o Pai e o Pai lhe dá imortalidade na vida eterna, que é fruto da contemplação de Deus”.
Recebamos o Espírito Santo como Ele quer se dar a nós! Não vivamos na ignorância em respeito ao Espírito. Não estamos mais em Éfeso. A Liturgia é o momento privilegiado de encontro com o Espírito Santo, e se um bom católico identificar o “Espírito natalino” com outro que não seja o próprio Espírito de Deus, estamos perdidos! Que frutos teremos do Natal? Que comunhão haveremos com o Espírito?
Sabemos que o homem carnal pensa as coisas carnais de modo carnal; mas nós somos, embora seres humanos, homens e mulheres espirituais, que não podemos comportar-nos como pagãos. Natal sem Cristo é tudo, menos Natal!
Em Dezembro de 1979, a primeira vez que São João Paulo II encontrava em audiência privada os dirigentes do Movimento Carismático, ele assim expressou-se: “A situação no mundo está muito perigosa. O materialismo se opõe à verdadeira dimensão do poder humano, todas as diferentes classes do materialismo. O materialismo é uma negação do espiritual, e é por isso que necessitamos da ação do Espírito Santo”!
Sim, irmãos, precisamos do Espírito Santo! Do mesmo Espírito que “provocou” o Natal de Jesus. O mesmo Espírito que envolveu Maria na sua conceição imaculada. O mesmo Espírito que deu entendimento e força a José! Precisamos do Espírito do Natal, do verdadeiro Espírito do Natal, o Espírito Santo que está presente na história humana, e oculto em cada coração humano (o Verdadeiro Amigo Oculto!).
Que Ele te ajude a entrar no mistério do Natal do Senhor. Estar com o Espírito Santo para viver na Presença do Menino Deus no Natal deste ano, seja o teu melhor presente. Unidos pela redescoberta do Espírito Santo no mistério natalino!
Vosso servo menor,
Pe. Eduardo Braga
Vice-postulador da causa de canonização da Beata Elena Guerra
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