Sendo Deus um ser infinito, nenhum intelecto pode alcançar as suas profundidades.
Por isso, ao revelar-nos a verdade sobre Si mesmo, Deus tem que se contentar com enunciar-nos simplesmente qual é essa verdade. O “como” dela está tão longe das nossas faculdades nesta vida que nem o próprio Deus trata de no-lo explicar.
Uma dessas verdades é que, havendo um só Deus, existem nEle três pessoas divinas- Pai, Filho e Espírito Santo. Há uma só natureza divina, mas três Pessoas divinas. No plano humano “ natureza” e “pessoa” são praticamente uma e a mesma coisa.
Se um quarto há três pessoas, três naturezas humanas estão lá presentes; se estivesse presente uma só natureza humana, haveria uma só pessoa. Assim, quando procuramos pensar em Deus como três Pessoas com uma só e a mesma natureza, é como se estivéssemos dando cabeçadas contra um muro.
Por isso, às verdades da fé como esta da Santíssima Trindade, chamamos “ mistérios de fé”. Cremos nelas porque Deus no-las manifestou, e Ele é infinitamente sábio e veraz. Mas, para sabermos como é que isso pode ser temos que esperar que Ele nos manifeste a Si mesmo por inteiro, no céu.
“ Mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. É portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que os ilumina.”(n. 234)
Os teólogos podem, é claro, dar-nos alguns pequenos esclarecimentos. Assim explicam que a distinção entre as três Pessoas divinas tem por base a relação que existe entre elas.
Temos Deus Pai, que se contempla na sua mente divina e se vê como realmente é, formulando um pensamento sobre Si mesmo. Concentramos o olhar no nosso interior e formamos um pensamento sobre nós mesmos.
Mas com Deus as coisas são muito diferentes. Existir é próprio da natureza divina. Não há outra maneira de conceber Deus adequadamente senão dizendo que é o Ser que nunca teve princípio, que sempre foi e sempre será. A única definição real que podemos dar de Deus é dizer que é Aquele que é. Assim se definiu Ele a Moisés, como recordamos: “Eu sou Aquele que é” (Êx 3,14).
“Ao revelar o seu nome misterioso de Javé, “Eu sou Aquele que é” ou “Eu sou o que sou” ou também “ Eu sou quem sou”, Deus declara Quem Ele é e com que nome chamá-lo, e é por isso mesmo que exprime, da melhor forma , a realidade de Deus como Ele é,infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou dizer”(n.206; cf. também n. 214)
Se o conceito que Deus tem de Si mesmo deve ser um pensamento infinitamente complete e perfeito, tem que incluir a existência, já que a existência é própria da natureza de Deus.
A imagem que Deus vê de Si mesmo, deve ter uma existência própria distinta. A este Pensamento vivo em em que Deus se expressa perfeitamente a Si mesmo chamamos de Deus Filho.Deus Pai é Deus conhecendo-se a Si mesmo; Deus Filho é a expressão do conhecimento que Deus tem de Si. Assim, a segunda pessoa da Santíssima Trindade é chamado de filho precisamente porque é gerada desde toda a eternidade, gerada na mente divina do Pai. Também a chamamos Verbo de Deus, porque é a “Palavra mental” em que a mente divina expressa o pensamento de Si mesmo.
Depois, Deus Pai (Deus conhecendo-se a Si mesmo) e Deus Filho (o conhecimento de Deus sobre Si mesmo) contemplam a natureza que ambos possuem em comum. Ao verem-se ( falamos naturalmente, em termos humanos), contemplam nessa natureza tudo o que é belo e bom- quer dizer , tudo o que produz amor- em grau infinito. E assim a vontade divina origina um ato de amor infinito para com a bondade e a beleza divinas. Uma vez que o amor de Deus por Si mesmo, tal como o conhecimento de Deus sobre si mesmo, é da própria natureza divina, tem que ser um amor vivo. Este amor infinitamente perfeito, infinitamente intenso, que eternamente flui do Pai e do Filho, é que chamamos Espírito Santo, “ que procede do Pai e do Filho”. É a terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
Resumindo:
Esta é a Santíssima Trindade: três Pessoas divinas em um só Deus, uma só natureza divina.
Estamos perante um mistério de fé e ninguém, nem o maior dos teólogos, poderá aspirar a compreendê-lo realmente. O máximo que se pode chegar é a diferentes graus de ignorância.
Ninguém deve sentir-se frustrado por haver mistérios de fé. Só uma pessoa que sofra de uma consumada soberba intelectual pretenderá abarcar o infinito, a insondável profundidade da natureza de Deus. Mais do que sentir com amargura as nossas limitações humanas, temos de encher-nos de agradecimento, porque Deus se dignou dizer-nos tanto sobre Si mesmo, sobre a sua natureza íntima.
Ao pensarmos na Santíssima Trindade, temos que estar em guarda contra um erro: não podemos pensar em Deus Pai como aquele que “vem primeiro”, em Deus Filho como aquele que vem depois, e em Deus Espírito Santo como aquele que vem ainda um pouco mais tarde. Os três são igualmente eternos porque possuem a mesma natureza divina; o Verbo de Deus e o amor de Deus são tão sem tempo como a natureza de Deus.E Deus Filho e Deus Espírito Santo não estão subordinados ao Pai de modo algum; nenhuma das três pessoas é mais poderosa, mais sábia, maior que as demais. As três têm igual perfeição infinita, igualmente baseada na única natureza divina que as três possuem.
“Toda a economia divina é obra comum das três Pessoas divinas, pois da mesma forma que a Trindade não tem senão uma única e mesma natureza, assim também não tem senão uma única e mesma operação”(n.258).
Não obstante, atribuímos a cada Pessoa divina certa “obras”, certas atividades que manifestam e refletem melhor as propriedades desta ou daquela Pessoa divina. Por exemplo, atribuímos a Deus Pai a obra da Criação, já que pensamos nEle como o “gerador”, o instigador, o motor de todas as coisas, a sede do infinito do poder de Deus possui.
Do mesmo modo, como Deus Filho é o Conhecimento ou a Sabedoria do Pai, atribuímos-lhe as obras de sabedoria; foi Ele que veio à terra para nos dar a conhecer a verdade e transpor o abismo entre Deus e o homem.
Finalmente, sendo o Espírito Santo o amor infinito, apropriamos-lhes as obras de amor, especialmente a santificação das almas, que resulta da habitação do Amor de Deus em nossa alma.
Deus Pai é o Criador, Deus Filho é o Redentor, Deus Espírito Santo é o Santificador. E, não obstante, o que Um faz, Todos o fazem; onde Um está, estão os Três. Este é o mistério da Santíssima Trindade: a infinita variedade na unidade absoluta, cuja beleza nos inundará no céu.
Fonte: TRESE, Leo J. – A fé explicada
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