Nosso Senhor quis fazer-se Homem porque, sendo "doente, nossa
natureza precisava ser curada; decaída, ser reerguida; morta, ser
ressuscitada. Havíamos perdido a posse do bem, era preciso no-la
restituir. Enclausurados nas trevas, era preciso trazer-nos à luz;
cativos, esperávamos um salvador; prisioneiros, um socorro; escravos, um
libertador".1
O Verbo se encarnou para ser nosso modelo de santidade, para que conhecêssemos o amor de Deus: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15, 12). Nosso Senhor veio trazendo uma clave completamente nova de amor ao próximo, de perdão e de caridade, como se lê no evangelho de São Mateus: "Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra" (Mt 5, 39), e ainda "amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem [...], pois se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis?" (Mt 5, 44. 46).
O Verbo se encarnou para ser nosso modelo de santidade, para que conhecêssemos o amor de Deus: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15, 12). Nosso Senhor veio trazendo uma clave completamente nova de amor ao próximo, de perdão e de caridade, como se lê no evangelho de São Mateus: "Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra" (Mt 5, 39), e ainda "amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos [maltratam e] perseguem [...], pois se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis?" (Mt 5, 44. 46).
Deus está constantemente querendo comunicar-se com o pecador para o
atrair a Si e nunca lhe nega a graça suficiente. A respeito desta
vontade salvífica universal de Deus, afirma Royo Marin:
[...] Deus quer seriamente - com toda a seriedade que há na face de
um Deus crucificado - que todos os homens se salvem. [...] É uma verdade
clara e explícita na divina Revelação: isto é bom e grato a Deus, nosso
Salvador, o qual quer que todos os homens sejam salvos e venham ao
conhecimento da verdade (1 Tm. 2, 3-4). Pois Deus não enviou seu Filho
ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele
(Jo 3,17).2
Este amor de Deus não exclui ninguém, pois Ele mesmo o disse na
parábola da ovelha perdida: "não é vontade de vosso Pai que está nos
céus que se perca nem um só destes pequenos" (Mt 18, 14). Ele também
revela que veio "dar sua vida em resgate por muitos" (Mt 20, 28).
Uma condição para o perdão
Deus está pronto a perdoar a qualquer um, a todo momento, basta
reconhecer que errou e pedir perdão. Esta afeição de Deus para com os
homens e a beleza do perdão estão divinamente manifestadas na parábola
do filho pródigo, cujo centro é o pai misericordioso que perdoa o filho.
Fascinado por uma ilusória liberdade, o filho mais novo abandona a casa
paterna, entra por caminhos errados, perde a herança em jogos e
diversões; rebaixa-se cuidando de porcos para se sustentar e, pior,
passa a disputar a ração com os porcos... Em certo momento, recebe uma
graça de arrependimento, por onde ele reconhece em que abismo chegou,
arrepende-se e corre de encontro ao pai; e este lhe cobre de afetos e o
perdoa.
Porém, há uma condição para ser perdoado: "perdoai as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido" (Mt 6,12).
São Pedro pergunta a Nosso Senhor quantas vezes devia perdoar quando
um irmão pecasse contra ele. Até sete? E Jesus respondeu-lhe que não
somente sete vezes, mas setenta vezes sete! (Cf. Mt 18, 21- 22) Comenta
Lagrange: "Pedro sabe bem que é preciso perdoar a um irmão. Mas quais
são os limites? Julga ele estar bem de acordo com o espírito de Jesus,
propondo sete vezes".3 Mas Ele contou-lhe uma parábola:
"Porque o Reino dos céus é comparado a um rei que quis fazer as
contas com os seus servos. Pronto a fazer as contas, apresentaram-lhe um
que lhe devia dez mil talentos. Tendo começado a fazer as contas,
foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos. Como não tivesse
com que pagar, mandou o seu senhor que fosse vendido ele, sua mulher,
seus filhos e tudo o que tinha, e se saldasse a dívida. Porém o servo,
lançando-se-lhe aos pés, lhe suplicou. Tem paciência comigo, eu te
pagarei tudo. E o senhor, compadecido daquele servo, deixou-o ir livre, e
perdoou-lhe a dívida. Mas esse servo, tendo saído, encontrou um dos
seus companheiros, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando-lhe a mão, o
sufocava dizendo: Paga o que me deves'. O companheiro, lançando-se-lhe
aos seus pés, lhe suplicou: ‘Tem paciência comigo, eu te pagarei'. Porém
ele recusou e foi mandá-lo meter na prisão, até pagar a dívida. Os
outros servos seus companheiros, vendo isto, ficaram muito contristados,
e foram referir ao seu senhor tudo o que tinha acontecido. Então o
senhor chamou-o, e disse-lhe: ‘Servo mau, eu perdoei-te a dívida toda,
porque me suplicaste. Não devias tu logo compadecer-te também do teu
companheiro, como eu me compadeci de ti? E o seu senhor, irado,
entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a dívida. Assim também vos
fará meu Pai celestial, se cada um não perdoar do íntimo do seu coração a
seu irmão (Mt 18, 23-35)".
Esta parábola é muito eloquente e ensina, com clareza, como se deve
perdoar e amar aos outros, sempre e de coração. Santa Teresa de Jesus
adverte às suas religiosas sobre a importância do perdão ao próximo,
dizendo que Nosso Senhor podia ter-nos ensinado "perdoai-nos, Senhor,
porque fazemos muitas penitências", ou então "porque rezamos muito,
jejuamos, deixamos tudo por Vós e muito vos amamos". Não. Ele disse
somente: "assim como nós perdoamos".4
São Francisco de Sales também foi ousado em afirmar:
"Muitos dizem: - Amo em grande medida o meu próximo, e bem quero
prestar-lhe algum serviço. - Isto está muito bem [...], mas não basta;
há que fazer mais. - Oh! Quanto o amo! Amo-o tanto que de boa vontade
empregaria meus bens por ele. - Isto já é mais e está melhor, mas ainda
não é bastante. [...] Tem que ir mais longe; pois há algo mais alto
nesse amor. Entregar-se até dar a vida pelo próximo não é tanto como
abandonar-se ao capricho dos demais para eles ou por eles".5
Ajuda sobrenatural
Meramente com nossas forças nada podemos ou conseguimos, entretanto,
temos em nosso auxílio uma protecção sobrenatural, sobre-humana, que é a
protecção de Nossa Senhora. Entre Cristo e os homens, ensina o
Professor Plinio Corrêa de Oliveira, há algo em comum, tão
extraordinário que não se compreende profundamente: ter a mesma Mãe!
Essa Mãe d'Ele, e também Mãe dos pecadores, tem misericórdia do filho
mais estropiado, mais fraco, mais torto, desarranjado, e quanto mais
esfarrapado e miserável, maior sua compaixão. Por isso, em diversas
ocasiões, recomenda a importante necessidade de possuir uma inteira
confiança em Nossa Senhora.
Quando uma alma é generosa em perdoar e suportar as misérias dos
demais, por mais que tenha pecado, se pedir o auxílio da Mãe de
misericórdia, Ela olhará com compaixão e indulgência e obterá o perdão
de Deus.
Quer dizer, inesgotável, clementíssima, pacientíssima, pronta a
perdoar a qualquer momento, de modo inimaginável, sem nunca um suspiro
de cansaço, de extenuação, de agastamento. [...] Dispensada essa
misericórdia, se ela for mal correspondida, vem uma misericórdia maior.
E, por assim dizer, nossos abismos de ingratidão vão atraindo a luz para
o fundo, quanto mais fugimos d'Ela, mais as suas graças se prolongam e
se iluminam em nossa direção.
Nos momentos de dificuldade, de aflição e necessidade deve-se correr
para Eles e jamais fugir d'Eles, como fez o filho da perdição, Judas.
Entretanto, se depois de ter vendido Nosso Senhor por trinta dinheiros
tivesse tido um movimento de devoção a Nossa Senhora, rezado a Ela,
certamente obteria uma ajuda. Se ele A procurasse e dissesse: "Eu não
sou digno de chegar próximo de Vós, de Vos olhar, de me dirigir a Vós,
sou Judas, o imundo... mas, Vós sois minha Mãe, tende pena de mim", Ela o
teria acolhido e tratado com benevolência sem par, aquele cujo nome é
sinônimo de horror: Judas Iscariotes.7
Se a Virgem Santíssima é tão indulgente com o pecador, não se deve
imitá-La, uma vez que Ela é louvada pelo título de Mãe dos pecadores? Os
homens, portanto, têm o dever de amar o próximo, pois é na disposição
de perdoar que a pessoa manifesta a verdadeira grandeza de alma. "Se
pagar o bem com o mal é diabólico, e pagar o bem com o bem é mera
obrigação, contudo, pagar o mal com o bem é divino".8
Essa retribuição de bondade, mesmo recebendo somente o mal, foi a
nota marcante da vida de Nosso Senhor. A qualquer um que lhe pedisse
algo, a cura, o perdão, tanto os bens do corpo como também os da alma, o
Divino Mestre a tudo atendia com superabundância divina.
Uma das mais tocantes provas dessa misericórdia infinita deu-se no
último lance da Paixão, quando no alto da cruz um dos ladrões lhe pediu
perdão e Jesus disse-lhe: "Hoje estarás comigo no Paraíso" (Lc 23 , 43),
ou seja, Ele perdoou o bandido e transformou-o em santo.
Assim deve ser a confiança do homem no perdão de Deus; por pior que
seja a situação em que se encontre, deve ele rezar a Nosso Senhor e
dizer: "Se Vós para tantos homens sois misericordioso e os mantendes,
então também a mim, criatura humana que sou, perdoai-me. Não mereço
vossa indulgência, mas a misericórdia é para os que não a merecem!".
Assim, Ele mesmo nos concederá o perdão, Ele mesmo nos receberá de
volta, Ele mesmo curará os nossos males produzidos pelas nossas faltas.
Beatriz Alves dos Santos
GaudiumPress
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