quinta-feira, 19 de abril de 2012

As “novas” configurações familiares

O vocábulo novo nos enche de uma expectativa gostosa de que algo de bom surge. De que podemos estar certos de que o sol vai brilhar após uma adversidade, de que nos perdoaremos ao percebermos que estamos errados, de que um dia todos terão um trabalho digno. De que há, ainda, possibilidade de sonhar!

Novo é antônimo de velho. Não que esta palavra designe tristeza, ou mesmo algo superado. O que é velho pode ser bom, mas, ao mencionarmos um fato novo, pensamos sempre em uma novidade. Alegria está engastada nesta palavra [novo].

Quando  nos referimos às novas famílias nos remetemos de imediato a pessoas que se unem em torno de uma mesa e conversam, gargalham, trocam ideias. Indivíduos que lutam pelo bem estar comum, que buscam a felicidade do outro. Para os que creem, famílias novas nada mais são do que famílias tementes a Deus, que vivem o Evangelho e dão um testemunho cristão no mundo de hoje.
Nesse contexto, uma família é nova quando, simplesmente, é aquilo o que é, na sua essência. Redundante? Talvez! Não seria necessário as denominarmos de novas se não tivessem se desviado de seu rumo. Se não tivessem se afastado da família modelo, a Família de Nazaré. Se os lares da pós-modernidade, dominados pela falta de referência e de valores cristãos, não tivessem deslocado o foco de suas existências, trocado o calor humano pela indiferença. Se os esposos soubessem a quem recorrer nas adversidades. E, especialmente, se em uma grande maioria de residências a televisão ou a Internet não ocupassem o lugar primordial; enquanto a Bíblia encontra-se cheia de teias de aranha, fadada ao esquecimento.

Ao criar o homem e a mulher, Deus os ordena à união e à procriação, portanto, a família não é uma obra humana. O próprio Deus é autor do Matrimônio (Gn 1,28;2,24).
Sendo, pois, estabelecido pelo próprio Deus, o vínculo matrimonial é de tal modo que, o casamento validamente realizado e consumado entre homem e mulher batizados, jamais pode ser dissolvido. O sacramento do Matrimônio possui uma graça própria, que se destina a aperfeiçoar o amor dos cônjuges, a fortificar sua unidade indissolúvel. Através dessa graça, ambos se ajudam na santificação mútua, na aceitação e educação dos filhos (CIC, 1640, 1641).

Não são então, sem qualquer sombra de dúvida, os valores da sociedade civil que sustentam uma família, que permitem que ela permaneça de pé ante as situações desafiantes de sua existência. É algo bem mais profundo e consistente! Jesus fala claramente no Evangelho que a “casa” deve ser edificada sobre a Rocha (Mt 7,24-27). Ele não se refere a uma rocha qualquer, mas à Rocha que é Ele mesmo. Há uma clareza plena em suas palavras. A multidão que o escutava ficou impressionada com sua doutrina, diz a Bíblia.
Está a Palavra de Deus desatualizada? Com certeza, não!
Então reflitamos brevemente sobre o que aconteceu com a família nos últimos tempos.

A família na atualidade

A contemporaneidade nos traz tipos de uniões os mais diversificados. Há pais do mesmo sexo, pais de sexos diferentes, namorados da mãe, namorados do pai, meios irmãos. Há que diga que não assistimos a agonia da família, mas sua reinvenção (OLIVEIRA, 2010). Uma coisa é fato: nunca os papéis masculinos e femininos, paternos e maternos estiveram tão confusos! As crianças nem sempre sabem a quem procurar e qual é, verdadeiramente, seu lugar na família em que está inserida. Uma maneira interessante de se perceber essa realidade é solicitando a uma criança que faça o desenho de sua família. Pode acontecer que ela desenhe, por exemplo, sua mãe, ela e outro irmão, sem a figura do pai. Ao ser indagada onde está o pai, ela solicitará outro papel e o desenhará com uma outra companheira e outros meios-irmãos. Fruto de que essa atitude?

A década de 1970 irrompeu na história mundial com novos conceitos de liberdade e com o feminismo, trazendo repercussões em todo o Ocidente. O movimento de contra-cultura, já iniciado nos anos 1960, trouxe um grito de independência para a mulher. O cigarro, o álcool, as drogas mais pesadas, o movimento hippie, o uso do anticoncepcional, e, de modo singular, o trabalho e a possibilidade de não depender financeiramente do companheiro, eram novidades atraentes para o universo feminino. De início, os homens também acolheram entusiasmados essa inovação, mas, pouco a pouco, foi-se dando uma invasão, uma penetração dos papéis femininos nos masculinos e vice-versa. Ficou caracterizada a confusão.

As uniões matrimoniais até então estáveis, sem a existência do divórcio, no Brasil, ficaram abaladas. O “até que a morte os separe”, ditado na fórmula do Matrimônio, entrou em crise porque em crise estavam também aqueles que desejavam constituir uma nova família. A música “Ai que saudades da Amélia”, de Ataulfo Alves e Mário Lago, ganhou destaque porque colocava em conflito dois tipos de mulheres, a submissa e a exigente, expressões usadas pela letra em questão. A liberalidade sexual atingiu o extremo, e o ser humano passou a experimentar de tudo. Tornou-se de fato escravo de suas paixões. E, como se encontra na Bíblia Sagrada, na Carta de São Paulo aos Romanos, o homem, conhecendo a Deus, não o glorificou mais como tal. “Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos, Amém!” (Rm 1,25).  

Família, fonte de vida e construtora da paz

Retomando então ao início de nossa reflexão, podemos compreender o que se passa com a família na atualidade. Deus, os valores do Céu deixaram de ser a motivação da constituição familiar na sociedade laicizada da pós-modernidade. Para aqueles que estão sem rumo, a família passa a ser questionada e, aglomerados difusos e estranhos de pessoas que se unem por causa de suas carências e desestruturas, tomam o nome de família, mas jamais sua missão e função!
O Beato João Paulo II, quando papa, escreveu na Exortação Apostólica Familiaris Consortio: “A família, nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura. Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar”.

O que dizer então? A família não morreu! Sua natureza divina a preserva. Não podemos perder a esperança de vermos o homem nascer e viver em paz em sua família. Como cristãos católicos, precisamos ter um fino discernimento acerca desse tema. Não ter medo de posicionar-se, orar sempre, e pedir a intercessão de Maria, nossa Mãe.   
O que existe na contemporaneidade não nos deve assustar, mas firmar nossa fé em Deus e nosso espírito de luta e de partilha no seio de nossas famílias. Sair de nós mesmos e caminhar na direção daqueles que precisam de ajuda e de testemunho de famílias que, na verdade, não são novas, mas que trazem em sua essência sua missão inalienável. O que Deus pensa acerca das famílias? Do amor entre os cônjuges? Dos filhos?

No documento “Carta às Famílias”, o Beato João Paulo II ressalta a estreita relação entre o Mistério Divino da Encarnação do Verbo e a família. O homem e a família constituem “a via da Igreja”.   
O que pode permitir que as famílias continuem sua missão? O conhecimento de sua natureza divina. A oração entre seus membros. A oração do casal, partes fecundas da aliança conjugal. O dobrar os joelhos diante de Deus, haurindo forças e sabedoria para a vivência dos desafios, sem perder de vista sua origem sobrenatural, intrínseca de sua constituição. Eis que a família é de Deus! Recorramos a Ele! É desejo de seu coração amoroso e paterno que sejamos felizes. Ele, somente Ele, pode nos revelar o caminho para a felicidade no seio familiar.  


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Fontes:
BÍBLIA SAGRADA.  5. ed.  São Paulo: Ave-Maria.
CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II ÀS FAMÍLIAS, 1994.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA.
JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 1981.

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