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Mostrando postagens de outubro, 2025

O tempo em minhas mãos

Era noite, e não havia vento. Durante uma palestra sobre a esperança, fui tomado por pensamentos sobre o tempo. Peguei o celular e, enquanto os pensamentos fluíam, comecei a digitar... Perder tempo com o tempo, como quem perde a si para se achar. Tomar o tempo nas mãos, mesmo sabendo que ele escorre, silencioso, entre os dedos da alma. Brincar com o tempo, como criança que confia no eterno, sem pressa, sem medo do fim. Viver o momento do tempo, onde o instante toca o infinito. Olhar o tempo e senti-lo, como o vento que não se vê, mas passa. Respirar o tempo, como quem ora sem palavras. Ter cuidado com o tempo, pois é dom, e o dom pede zelo. E então me pergunto, em voz mansa: Quanto tempo de tempo eu tenho? O bastante para amar, talvez. Ou apenas o bastante para aprender que o tempo não é meu, é graça que me visita, e passa. Diego Tales  23/10/2025

A Determinada determinação: o valor que nasce do sacrifício segundo Santa Teresa de Jesus

Não estava no meu intuito compartilhar esse texto, mas deixá-lo nos rascunhos. Mas o dia de alguns santos me inquietam, principalmente os santos Carmelitas e Passionistas. Relendo alguns trechos em algumas obras de espiritualidade nos últimos dias para escrever sobre Santa Teresa, já que estava se aproximando o dia da sua memória, hoje me veio a mente um dos seus tantos pensamentos que sempre toca o meu coração, a sua célebre frase: “É justo que muito custe aquilo que muito vale” , Santa Teresa como que sintetiza o coração de sua doutrina espiritual: o caminho da união com Deus exige esforço, perseverança e amor firme nas provações. Não se trata de uma exaltação do sofrimento em si, mas da consciência de que os bens espirituais mais preciosos - a graça, a santidade, a amizade divina - não se alcançam sem determinação e entrega total. Para doutora, a vida interior é uma jornada de amor, e amar verdadeiramente custa, porque supõe sair de si mesmo e vencer o apego às próprias vontades. Em...

O amor como plenitude da liberdade humana

A liberdade é dom para o amor. O Pe. Morais Júnior afirma que o homem só se realiza quando orienta sua liberdade ao Absoluto: “Erra quem procura fragmentar a entidade humana ou quebrar o elo espiritual que a prende ao supremo Bem”. A liberdade sem amor é solidão; o amor sem liberdade é servidão. Somente quando ambos se unem nasce a santidade, o estado em que a vontade humana repousa na vontade divina, e o ato de amar torna-se ato de ser. Pe. Faber, refletindo sobre essa união, chama o amor de “ciência das ciências”, porque tudo depende de como estamos diante de Deus. A graça nos faz amar porque nos faz ver: ver a Deus é amá-lo, e amá-lo é tornar-se livre. Assim, o dom de amar é o ápice da criação e da redenção. O homem, feito à imagem do Amor, encontra sua liberdade quando ama; e, quando ama, torna-se imagem viva de Deus. O dom de amar na liberdade revela o mais profundo dinamismo da vida cristã. Por fim, o amor é o rosto da liberdade redimida. Amar é permitir que Deus ame em nós, é o ...

Quando o sol se recolhe

Quando o sol ia se pondo ao oeste do Rio Potengi, parei e fiquei observando, compreendi que a luz não desaparecia - apenas se recolhia do nosso olhar para brilhar em outro horizonte. Assim também é a vida humana: o entardecer da existência não é o fim, mas o prenúncio de uma nova aurora, a luz sem ocaso da eternidade (cf. CIC §1013, §1022). O entardecer como o nascer do sol é escatológico.  Mas essa realidade não deve nos causar medo, e sim esperança e gratidão. O cristão vê no cair do sol não a sombra do fim, mas o início do repouso em Deus. São João Paulo II dizia que “a morte é a porta da vida”, a passagem da fé para a visão, da espera para o encontro. Como o entardecer que pinta o céu com cores suaves de amarelo, laranja e vermelho, o fim da vida pode ser contemplado como um ato de entrega confiante  a Deus, uma despedida que prepara o coração para o abraço eterno do Amor... Quando o sol se recolhe, não morre a luz, apenas repousa noutro horizonte. O céu, cansado de tanto ...

O amor próprio desordenado e a crise do homem contemporâneo

A crise do homem contemporâneo tem suas raízes mais profundas no amor próprio desordenado. Esse amor, ao invés de ser reflexo da legítima estima de si como criatura de Deus, torna-se fechamento egoísta, idolatria de si mesmo e rejeição da transcendência. A tradição espiritual cristã, conforme recorda Dom Chautard em A alma de todo apostolado, ensina que a verdadeira fecundidade da vida humana e apostólica depende da vida interior, ou seja, da relação de amor com Deus que purifica o coração e ordena os afetos. Quando o homem volta-se unicamente para si, interrompe esse fluxo vital. No entanto, a modernidade, ao exaltar o indivíduo como medida de todas as coisas, substituiu a interioridade pela autoafirmação. O amor próprio tornou-se uma forma de autossuficiência: o homem moderno busca a felicidade fora de Deus e, ao fazê-lo, perde o sentido de si mesmo. Pe. William Faber, em seu livro o Progresso na Vida Espiritual, alerta que o amor próprio é uma das maiores contradições da vida espiri...