Quando o sol ia se pondo ao oeste do Rio Potengi, parei e fiquei observando, compreendi que a luz não desaparecia - apenas se recolhia do nosso olhar para brilhar em outro horizonte. Assim também é a vida humana: o entardecer da existência não é o fim, mas o prenúncio de uma nova aurora, a luz sem ocaso da eternidade (cf. CIC §1013, §1022). O entardecer como o nascer do sol é escatológico.
Mas essa realidade não deve nos causar medo, e sim esperança e gratidão. O cristão vê no cair do sol não a sombra do fim, mas o início do repouso em Deus. São João Paulo II dizia que “a morte é a porta da vida”, a passagem da fé para a visão, da espera para o encontro.
Como o entardecer que pinta o céu com cores suaves de amarelo, laranja e vermelho, o fim da vida pode ser contemplado como um ato de entrega confiante a Deus, uma despedida que prepara o coração para o abraço eterno do Amor...
Quando o sol se recolhe, não morre a luz,
apenas repousa noutro horizonte.
O céu, cansado de tanto brilhar,
fecha os olhos - não em fim, mas em promessa.
Há um sossego no entardecer,
como o coração que, após longo dia,
descansa nas mãos do Criador.
E mesmo cansado, ainda contempla.
Porque o cansaço não apaga a beleza,
é nela que a alma aprende a ver mais fundo.
Quem se cansa, mas não desiste de olhar,
descobre que a fadiga é irmã da fé -
ambas esperam o repouso prometido.
O sol se põe, o corpo se cala,
mas a alma, silenciosa, se acende.
Na brisa mansa da tarde,
Deus sussurra: “Descansa, filho,
pois teu entardecer é meu amanhecer.”
E assim, mesmo o último suspiro
é apenas o primeiro canto da eternidade.
O amor não tem ocaso -
só horizontes novos.