Não estava no meu intuito compartilhar esse texto, mas deixá-lo nos rascunhos. Mas o dia de alguns santos me inquietam, principalmente os santos Carmelitas e Passionistas. Relendo alguns trechos em algumas obras de espiritualidade nos últimos dias para escrever sobre Santa Teresa, já que estava se aproximando o dia da sua memória, hoje me veio a mente um dos seus tantos pensamentos que sempre toca o meu coração, a sua célebre frase: “É justo que muito custe aquilo que muito vale”, Santa Teresa como que sintetiza o coração de sua doutrina espiritual: o caminho da união com Deus exige esforço, perseverança e amor firme nas provações. Não se trata de uma exaltação do sofrimento em si, mas da consciência de que os bens espirituais mais preciosos - a graça, a santidade, a amizade divina - não se alcançam sem determinação e entrega total. Para doutora, a vida interior é uma jornada de amor, e amar verdadeiramente custa, porque supõe sair de si mesmo e vencer o apego às próprias vontades.
Em suas obras, como O Livro da Vida e o Castelo Interior, estas que nos são tão caras, a mestra da vida cristã e da oração apresenta a ascensão espiritual como um itinerário de purificação e crescimento. Deus conduz a alma, pouco a pouco, da oração inicial e cheia de distrações até as moradas mais íntimas, onde reina a comunhão amorosa com Ele. Esse caminho, porém, não é linear nem fácil. A alma encontra resistências interiores - distrações, secura, tentações de desânimo - e provações exteriores que testam sua fidelidade. Por isso, Teresa exorta à “determinada determinação”, expressão que complementa e explica a frase em questão: a santidade requer constância heroica, mesmo nas noites escuras.
Segundo Frei Gabriel de Santa Maria Madalena (1893-1953), autor de diversas obras de espiritualidade, um homem que estudou profundamente a mística teresiana, ele ensina que Teresa “tende a um fim único: o encontro da alma com Deus, e não conhece melhor caminho que o da generosidade”. Essa generosidade traduz-se no dom de si, no abandono confiante e no amor perseverante. O “custo” espiritual é o preço da fidelidade a Deus em meio às dificuldades cotidianas e às purificações interiores. É o mesmo princípio evangélico recordado por Cristo: “onde está o teu tesouro, aí está o teu coração” (Mt 6,21).
Para o Frei Jesus Castellano Cervera (1941 - 2006), outro grande frade carmelita e estudioso da santa, ensina que a pedagogia de Teresa é profundamente realista. Ela sabe que o progresso espiritual não é imediato nem isento de quedas, mas fruto de um amor que amadurece no tempo, sustentado pela graça e pela decisão livre de permanecer fiel. Assim, o “muito custar” é, paradoxalmente, fonte de alegria, pois torna o amor mais puro e o coração mais semelhante ao de Cristo.
Em um olhar prático, a frase de Teresa convida o cristão contemporâneo a revalorizar o esforço espiritual. Numa cultura que busca resultados rápidos e prazeres imediatos, ela recorda que o verdadeiro valor se mede pela capacidade de perseverar. Amar, servir, perdoar, rezar com constância e buscar a vontade de Deus em tudo, essas são atitudes que custam, mas valem infinitamente, porque moldam o ser humano à imagem do Amor eterno.
Poderia resumir o espirito teresiano, e o fôlego da vida espiritual em dois pontos: fidelidade e paciência. E a paciência é o custo do amor maduro: suportar o tempo de Deus, aceitar as purificações, renunciar às ilusões de imediatismo.
Assim, “é justo que muito custe aquilo que muito vale” significa que o caminho para o essencial: Deus, o Amor, a Verdade, Ele exige toda a nossa entrega. O preço não é opressão, mas liberdade conquistada; não é peso, mas plenitude. Santa Teresa nos ensina, portanto, que a alma que tudo dá a Deus, mesmo em meio ao sofrimento, descobre o segredo da felicidade autêntica: o valor de amar o que realmente vale - e de pagar, com alegria, o preço do amor.
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